Por Luiz Padilha
O 1º/16º Grupo de Aviação (Esquadrão Adelphi), sediado na Base Aérea de Santa Cruz (BASC), foi escolhido para receber, e operar, com o primeiro A-1M modernizado pela Embraer. Outra vez o Adelphi tem a primazia de ser escolhido, pois além de ser o primeiro esquadrão a operar o A-1 na FAB, foi o primeiro a participar do exercício Red Flag nos Estados Unidos e receber a primeira piloto de caça da FAB, a Tenente-Aviadora Carla Alexandre Borges.
Defesa Aérea & Naval esteve no Esquadrão Adelphi e conversou com seu comandante, o Ten.Cel.Av. Camara, para saber como está ocorrendo a transição para a aeronave modernizada.
Atualmente, o Adelphi já está operando com dois caças, o FAB 5520 e o FAB 5506, recebidos em 03/09/2013 e 21/01/2014 respectivamente. O terceiro, o FAB 5525 chegou no fim de agosto.
Um pouco de história
A primeira aeronave A-1A (5500), foi entregue a Força Aérea Brasileira em 17 de outubro de 1989 e o Esquadrão Adelphi (1º/16º GAv), foi ativado no dia 07 de novembro de 1990, quando recebeu suas primeiras aeronaves AMX fabricadas pela Embraer em São José dos Campos fruto da parceria com as empresas italianas Alenia e Aermacchi. Outros 2 esquadrões também operam o A-1, o 3º/10º GAv Centauro e o 1º/10º GAv Poker, ambos sediados na Base Aérea de Santa Maria-RS.
O A-1 quando chegou, mudou muito o conceito de voar e operar. Com a ajuda de seus computadores de bordo, a vida dos pilotos foi facilitada e os resultados operacionais não demoraram a aparecer, o que levou os pilotos a apelidarem o A-1 de “avião computador”.
O Esquadrão Adelphi está subordinado à 3ª Força Aérea, realizando missões de caça bombardeiro, de ataque ao solo, interdição, apoio aéreo aproximado, reconhecimento aéreo e combate eletrônico, com as aeronaves A-1A e A-1B.
A bolacha do Esquadrão Adelphi foi criada pelo falecido Maj.Av. César Bombonato, curiosamente quando era integrante do Esquadrão Pampa, vindo mais tarde já como Tenente Coronel, a comandar o Adelphi. O Ten.Cel. Bombonato veio a falecer quando sua aeronave caiu no mar durante exercício preparatório para a Red Flag 98-3.
A Red Flag 98-3
Em 1994 a USAF fez um convite à Força Aérea Brasileira para participar do exercício Red Flag, que ocorre na base aérea de Nellis, no Arizona, mas a FAB ainda não estava pronta para o desafio. Com a participação nas edições da Operação Tigre I (1994), realizada em Porto Rico, Tigre II (1995), em Natal (RN), e Tigre III (1997), em Santa Maria (RS), os esquadrões 1º GAvC e 1º/16º GAv passaram a operar com os F-16 da USAF, onde os F-16 não lograram êxito em abater nossos A-1, apelidando-os de “The bees”.
Enfim, em 97 a FAB acenou ao United States Military Liaison Office (USMLO), sua intenção de participar do exercício e os americanos aceitaram semanas depois. Operar em pacote com e contra caças F-15 Eagle, F-16, F-18 Hornet, F-5 Tiger III e sistemas que simulavam presença de baterias antiaéreas de mísseis como SA- 6, SA-3 e Roland, era algo novo e os A-1 obtiveram sucesso nas suas missões de ataque e sobreviver às “ameaças”, trazendo para o esquadrão um conhecimento enorme e os frutos dessa participação foram incorporados ao esquadrão.
As aeronaves selecionadas para ir a Nellis foram os FAB 5506, FAB 5515, FAB 5525, FAB 5526. FAB 5527 e o FAB 5529.
Transição
O esquadrão Adelphi opera com os A-1A, A-1B e agora com os A-1M, porém, os vôos com as aeronaves não modernizadas deverão cessar com a chegada do terceiro A-1M, o FAB 5525. As demais aeronaves deverão seguir para a modernização na Embraer, em sua unidade de Gavião Peixoto.
Os pilotos estão se capacitando para voar o A-1M e a qualidade da aeronave modernizada é ressaltada pelo TC Camara.
“Antes o piloto necessitava manter o nariz do avião apontado no alvo por 3 a 4 segundos para o sistema fazer o ‘lock-on’ e ocorrer o acerto no alvo (bingo), hoje, com a adição do radar e dos novos sistemas à bordo, esse tempo foi reduzido, propiciando ao A-1M, a capacidade de efetuar “ataques cirúrgicos”.
O Adelphi tem como missão primária realizar missões de bombardeio, mas, é capacitado para outras e sempre que solicitado, as executa. Segundo o Ten.Cel. Camara, a busca pela proficiência é fundamental e para isso, seus pilotos treinam diariamente, agora mais ainda com o A-1M.
O A-1M
Os A-1 apesar de bastante semelhantes, possuem três lotes diferentes, com sistemas distintos, o que dificulta a manutenção. Assim, todos os A-1M serão iguais, sem nenhuma distinção, o que facilitará muito a manutenção das aeronaves.
Com a nova suíte eletrônica que integra rádios, sistemas de navegação e datalink, o avião terá um sistema de instrumentos de vôo de reserva (Back-Up Flight Intrumentation – BFI), que, em caso de falha dos sistemas principais, poderá ser usado após uma pane ou no caso de aeronave vir a ser atingida por fogo inimigo. Todos os voos são gravados digitalmente, permitindo que após o pouso de um piloto em instrução, os detalhes do vôo/missão, possam ser analisados. Além de novos sistemas, o caça recebeu reforços estruturais que o habilitam a operar por mais 20 anos.
Além da atualização dos sistemas de alerta (RWR – Radar Warning System) e de auto-defesa (Chaff e Flare), o caça teve sua capacidade de sobrevivência no campo de batalha aumentada com a introdução do MAWS – Missile Airborne Warning System ou Sistema de Lançamento e Aproximação de Mísseis, que detectam a emissão infra-vermelha da queima dos motores foguetes deles, e assim, poder identificar e classificar os disparos executados por aeronaves interceptadoras e de baterias antiaéreas.
A adição do radar SCP-01 Scipio da SELEX – MECTRON, permite que o caça enxergue os alvos mais distante, possibilitando que a aeronave lance suas bombas com maior precisão, atingindo assim seu objetivo de penetrar no território inimigo, destruir os alvos determinados e retornar com segurança.
Com o novo (Head Up Display – HUD) integrado aos sistemas de navegação, realizar ataques e gerenciar sensores e armas, ficou mais prático conferindo ao piloto uma maior consciência da situação tática.
No modo ar-ar, o radar SCP-01 confere ao caça a capacidade de avaliar as ameaças aéreas ao seu redor e em caso de combate contra caças inimigos, possibilitar o uso de seus mísseis de autodefesa. Segundo o Ten.Cel. Camara, a defesa aérea não é a missão primária do A-1M, mas ele pode cumprir também essa tarefa.
No modo ar-mar, o A-1M poderá voar missões contra alvos navais operando junto aos aviões de patrulha P-3AM. Ainda não se sabe qual será o míssil ar-mar que a FAB adotará (Harpoon , AM-39 ou a versão ar-mar do MAN-1).
Uma das novas capacidades que o A-1M obteve é o uso do óculos de visão noturna pelos pilotos NVG-(Night Vision Googles), dando ao operador um salto enorme nas possibilidades operacionais. Os pilotos poderão usar também o Helmet Mounted Display – HMD, capacete com display, possibilitando ao piloto direcionar mísseis de acordo com o movimento da cabeça. Para que isso seja possível, a aeronave recebeu um novo manche e manete de potência seguindo o conceito HOTAS (Hands-on Throttle And Stick). Agora o piloto tem o controle total, pois ele tem todos os instrumentos ao alcance dos dedos, sendo possível voar toda a missão sem retirar as mãos do manche e da manete de potência.
O alcance que é uma das virtudes do A-1 e continua a mesma no A-1M. Façanhas como o vôo de mais de 10 horas realizado em 2003 ( BASM até Natal-RN) com REVO poderão ser repetidas com mais segurança e menor carga de trabalho ao piloto.
Armamentos e Sensores
O A-1M manteve a capacidade de utilizar os mesmos armamentos e agora poderá acrescentar mais alguns que a modernização possibilitou.
Com quase 4.000 Kg de carga bélica em seus 5 pontos duros, o A-1M pode empregar bombas de emprego geral e bombas guiadas por laser, mísseis ar-superfície como o MAR-1, a versão anti-navio do MAN-1 nacional ou Harpoon, foguetes e pods de reconhecimento e jammer. Para auto-defesa o A-1M pode usar 2 mísseis ar-ar AIM-9 Sidewinder, MAA-1 Piranha e no futuro o A-Darter nos trilhos das pontas das asas.
O A-1M também fará uso de casulos como o Reccelite, que é um pod eletro-ótico que pode fornecer em tempo real a coleta de imagens e transferência de dados através de comunicações por ligação de dados, do Litening, um pod de direcionamento integrado infra-vermelho, que aumenta significativamente a eficácia de combate do avião durante o dia, à noite e em qualquer condição meteorológica no ataque ao solo, fornecendo imagens precisas do alvo. Ele possui um designador laser para guiar as munições guiadas à laser e do Skyshield, que faz as estações de solo ou outras aeronaves de caça ao tentarem utilizar seus radares para detectar os A-1M, sofram interferências em seus sistemas.
Com a chegada de mais aeronaves modernizadas, o 1º/16º GAv Adelphi poderá incrementar a transição de novos pilotos para o A-1M, preparando-os para o futuro.
Não deixe de ler também, a entrevista com o comandante do 1º/16° GAv Adelphi, Ten Cel Av Raul Carlos Camara Borges.
Que bom o resgate desta reportagem com o comentário de Marco, apesar de não concordar com a troca peos M-2000. A história prova a necessidade de aeronaves com formação diversas e caça multi função são bem vindos, mas não dá pra descartar a importância dessa aeronave e sua necessidade até a chegada do 100° grifo.
Eu pegaria esse.dinheiro e sairia atras dos M2000-9 dos Sauditas.que estavam a venda na epoca.do inicio da modernizacao.
Acompanhei esta estória desde de minha adolescência, vi o AMX nascer, e foi motivo de alegria e orgulho pra min,fico feliz que tenha ganho mais 20 anos de vida útil……
A versão italiana já mostrou seus talentos em combate, mais fico curioso…..o que aquele par de canhões 30 mm, não fariam no solo??????????
“Com quase 4.000 Kg de carga bélica em seus 5 pontos duros, o A-1M pode empregar a versão anti-navio do MAN-1 nacional ou Harpoon”
É isso mesmo ? O A1-M estará apto a disparar os mísseis Harpoon ??
PS: Excelente trabalho Luiz Padilha, a matéria ficou muito boa.
Penso, talvez para alguns, um pensamento medíocre, mas imagina U$ 6 Bi investidos no projeto do redesenho F5 Tiger ao invés de um novo avião. Novos materiais, polímeros, compostos, fibra de carbono, tintas especiais, novas tecnologias… toda a cadeia produtiva nacional envolvida no projeto, e para aquelas tecnologias supostamente inatingíveis como o radar, turbinas etc, compra de prateleira como foi feito no Gripen… e mandariam as turbinas atuais do F5 para as universidades especializadas, engenharia reversa para melhorias, assim como todo mundo faz…
Não estou defendendo a compra dos Tigers velhos em volta do mundo, mas um redesenho do projeto. Nasceria por aí, talvez, um projeto nacional. Aliados aos AMX, seria um bom começo para nós…
DAN quando a FAB vai receber o terceiro A-1M? A modernização prossegue? Todas as unidades ainda serão modernizadas ou houve redução desse número?
Já receberam. Hoje eles têm o 5520 5506 e o 5525.
Esta Matéria é de uma Revista Especializada. Não me recordo qual, más é. Preciso verificar nos meus arquivos, digo nas revistas empilhadas que guardo.
Matéria muito boa mesmo. Eu li e reli muitas vezes.
A matéria é do DAN. Ela foi publicada antes na revista T&D. Tanto lá como cá, o autor sou eu.
abs
Com essa modernização o AMX ficou mais mortal essa transformação deveria ser feita a 15 anos atras mais antes tarde do que nunca.
O AMX é uma aeronave que ficará na história da aviação brasileira tanto pelo o imenso impacto operacional na FAB como o impacto tecnológico-industrial na Embraer.
Esta modernização atual deixará este importante avião em condição de alta eficiência no final de sua vida operacional, muito bom seria se assim que o Adelphi estiver totalmente formado com as novas aeronaves A-1M fazer uma nova visita na Red Flag que na outra vez foram 6 aeronaves desta vez poderia se pensar em 6 AMX e um KC-390… Daqui a 2 ou 3 anos…
A princípio o Gripen irá substituir o AMX na FAB mas nada impede de se avaliar se poderia-se prolongar mais a vida desta aeronave uma vez que se inclua uma nova modernização com um programa específico de digitalização e reprojeto da estrutura da célula e de desenvolvimento de uma nova turbina. Como o programa Gripen não inclui a nacionalização ou ToT da turbina americana GE F-414 eu acho que não seria um desperdício de dinheiro a FAB contratar a Rolls-Royce e a Polaris para desenvolver uma versão atualizada da Spey 807 que equipa os AMX. Mesmo sem injetor de plasma e turbinas de baixa pressão mais modernas e eficientes a turbina Spey teve modelos equipados com pós-combustor e marinizadas. Um programa de tecnologia de motores para os AMX TALVEZ seria o melhor “primeiro passo” que a FAB poderia dar em turbinas para veiculos tripulados já que optou por não buscar esta tecnologia no Gripen. E um programa similar para a turbina do F-5M seria menos efetivo pois as células estão bem mais cansadas e o jato é biturbina.
Com o sucesso no desenvolvimento da nova turbina e mais potência na Spey (e quem sabe pós-combustor) poderia até se pensar seriamente em aproveitar o estudo de digitalização e reprojeto da célula da fuselagem e se pensar em fabricar um AMX II atualizando a aeronave como um todo para um novo lote para a FAB ou mesmo venda como um modelo de ataque puro mais barato ao Gripen…
Basta a FAB querer seguir (ou não) este caminho…
Eu gostaria de ver…
Troca Night Vision Googles por Goggles porque eu pensei que era do google XD
Ótimas as informações divulgadas .
FabioVargas, sempre tive esse tipo de dúvida em relação aos projetos das FAs, porém, há bastante tempo se fala na modernização, bem antes da decisão do FX-2. Não acho prudente esperar o conhecimento do Gripen para “remendar” a modernização dos A-1. Mas é de fundamental importância que os sistemas possam ser integrados e as aeronaves possam “conversar” de forma inteligente em um TOA, por exemplo.
Bom saber que o A – 1 vão continuar por mais 20 anos totalmente operacional na transição para o Gripen.
Uma duvida q sempre tive.
O AMX foi um marco na nossa industria, mesmo sendo inferior aos seus concorrentes mais famoso (Leia A-10 e SU-25). Porem mesmo com os mais modernos vetores, a capacidade de ataque ao solo é algo especifico, já q existem diversos problemas que um multi função pode não conseguir superar.
Necessidade de blindagem por proximidade de fogo antiaéreo e etc.
Nisso vem a minha duvida.
Será q não seria interessante uma reformulação do projeto, com uma modernização, aproveitando a entrada da saab no nosso mercado em parceria nacional, criando um novo vetor com maior capacidade de carga e etc, para trabalhar em parceria com o Gripen BR e no ST?
Ou seria apenas um desperdício de dinheiro, e de fato o projeto AMX cumpriu seu papel com o conhecimento adquirido pela EMBRAER?
Com o emprego crescente de armas stand-off realizando com sucesso ataques precisos a altitudes cada vez maiores o próprio conceito de Close Air Suport me parece já obsoleto… Outro ponto que deve ser levado em conta é o aperfeiçoamento dos sistemas anti aéreos praticamente sem chance de defesa para um AMX no campo de batalha moderno o que torna suas chances de sobrevivencia ao entrar em território inimigo, realizar um ataque e escapar ileso praticamente nulas.
Aeronaves modernas multirole como o Gripen NG cumprem a mesma tarefa do AMX com mais eficiencia e uma perspectiva de sucesso maiores
Carol Topol
Mas será isso mesmo?
A duvida vem em relação a recusa de aposentadoria do A-10 pelos EUA
Mesmo com todo esse avanço nos armamentos, as batalhas hoje se travam de forma assimétrica e nem sempre com sistemas AA em posição e basta ver o grande numeros de baixas sofridas pelso EUA no Afeganistão por conta de fogo amigo de grande altitude.
Sera q o conceito Close Air esta acabado? Será mesmo que o Gripen ou qq outro vetor consiga realizar apoio a tropas terrestres? Realmente duvido
Pq um coisa é clara o Multi Função faz um pouco de tudo mas não é especialista em nada.
Excelente reportagem!!