Por Denise Rothenburg e Leonardo Cavalcanti
Nos governos Lula e Dilma, Aldo Rebelo fez um pouco de tudo. Foi líder do governo, ministro da Secretaria de Coordenação Política, presidente da Câmara. Ministro da Ciência e Tecnologia, do Esporte e, por fim, chegou ao comando das Forças Armadas. Há quatro meses no cargo, tem o projeto de conseguir do Congresso a garantia de que a Defesa terá, a cada ano, 2% do PIB. Trabalho difícil, mas não impossível, para quem tem a maioria dos radares ligada nos movimentos políticos. Na quinta-feira à tarde, ele conversou com o Correio. Mostrou-se convencido de que o
impeachment perdeu força e é hora de mudar a agenda.
“Se este negócio de impeachment estivesse na ordem do dia, a pauta do mosquito ia para o rodapé.”
Há uma preocupação dos militares com o orçamento da Defesa. Como o senhor vê a ameaça sobre projetos estratégicos?
Nós temos dois desafios relacionados ao orçamento de defesa. O primeiro é o de curto prazo, ou seja, de não comprometer os programas estratégicos por causa da sazonalidade dos recursos e do orçamento. Falo do programa do Submarino, dos caças, do avião de transporte KC-390, do sistema de vigilância das fronteiras, dos equipamentos do Exército, dos carros de combate.
Há inclusive a preocupação com a defasagem dos programas.
Temos procurado preservar os recursos para a manutenção desses projetos. De que forma? Adiando projetos que são importantes, mas não precisam começar agora, e dando os recursos para aqueles que já estão em curso. E, em alguns casos, ajustando prazos e cronogramas destes projetos, mas de tal forma que não comprometa as suas trajetória e finalidade. O outro desafio relacionado com o orçamento é buscar verbas de caráter permanente para a atividade de defesa. O Estado vai precisar de um sistema de defesa e de um sistema de financiamento para essa atividade. Como todos os países que valorizam a atividade defesa fazem. A minha ideia é que nós estabeleçamos um percentual do PIB para a defesa, que tenhamos para a defesa o mesmo tratamento da saúde e da educação.
Quanto seria esse percentual?
Eu penso que 2% é o que daria equilíbrio e sentido de continuidade aos projetos e ao custeio de um sistema de defesa compatível com a nossa economia, geografia, a extensão das nossas fronteiras, a dimensão do nosso espaço aéreo, e o tamanho das nossas águas jurisdicionais. Quando se tem grandes fronteiras, um espaço aéreo continental e 4 milhões e meio de quilômetros quadrados de águas jurisdicionais, onde está o nosso petróleo, que é a rota do nosso comércio internacional, tem de se proteger tudo isso, e não se pode proteger tudo isso sujeito a sazonalidade.
Para este ano, tem recurso, para o outro, não tem. Com 2% do PIB eu acho que comporta a nossa geografia, economia e a população e as nossas necessidades.
Essa proposta estaria na contramão do que o governo prega?
Não. Há uma preocupação com a desvinculação, e eu acho que é importante, para dar liberdade de opção ao governo e às políticas públicas, mas isso quando se destina para programas com começo, meio e fim. Se tiver um programa de infraestrutura aeroportuária, e concluído o programa, não se tem mais necessidade de recursos. Mas, no caso de defesa, saúde e educação é diferente por não se vive de programas, tem que se financiar atividades como uma coisa permanente.
A ideia aparece quando o senhor assume?
Ela tomou nitidez e caráter de necessidade quando eu me deparei com as dificuldades e a incerteza dos recursos.
Qual é o prazo para aprovação?
Precisa aprovar durante minha gestão aliás, já levantei este tema no Congresso, na primeira visita que fiz à Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. Eu fiz uma provocação aos parlamentares no sentido de debaterem essa proposta, e levarem em conta essa ideia. É evidente que eu preciso da autorização da presidente da República.
Ela concordou com isso?
Eu ainda não levei a ideia a ela. Mas acho que pela valorização que ela dedica ao tema da defesa.
A Aeronáutica vai comprar o KC-390?
O avião para ser adquirido precisa ser homologado no processo que vai além do voo teste, que já foi realizado, e um determinado período de voo, acho que pelo menos três aeronaves, isso é o que precisa. E naturalmente os países esperam que o país construtor do avião seja o primeiro a adquiri-lo. Então isso é parte do projeto, a aquisição do KC-390 por parte da FAB. E os recursos para essa aquisição também integram o projeto.
Quando o projeto do antiterrorismo será aprovado?
O mais rápido possível, pois o Brasil já sofre riscos de partilhar informações relacionadas com essa questão de terrorismo por não ter um projeto aprovado. Ou seja, há uma certa cobrança internacional para o Brasil ter uma lei compatível com as preocupações mundiais, com esses temas, ameaças e com esses riscos.
O mosquito ameaça as Olimpíadas?
O combate ao mosquito da dengue, da chicungunha e do zika é uma tarefa importante do país. Quando nos mobilizamos para enfrentar a febre amarela, o Rio de Janeiro era uma cidade quase que isolada no mundo. Os navios tinham receio de parar, a cidade sofria consequências até econômicas, era a capital do país e uma que causava receio às tripulações, ao mundo. Então, tivemos que enfrentar a febre amarela, numa campanha dura, liderada por um homem de muita coragem, científica e política, que foi o Oswaldo Cruz, que enfrentou pressões e ameaças. No caso desse mosquito, agora, temos que enfrentar com meios muito mais potentes, do que o que se possuía no início do século passado. Nós temos hoje instrumentos na área de saúde pública, organização, logística e capacidades muito mais amplas que tínhamos no século passado. Assim, as Forças Armadas se engajam e apoiam esse esforço. Em relação às Olimpíadas, não faz sentido proibir ou suspender por uma causa que está sendo combatida, e que naturalmente até as Olimpíadas terá incidência muito reduzida por conta da época, em que não é propícia à reprodução do mosquito, e por conta do combate que o governo está fazendo. Ou seja, existem outras ameaças e doenças no mundo inteiro, e ninguém suspende um evento por causa disso.
A pauta de zika tirou do foco as discussões do Congresso?
Eu acho que a pauta do mosquito ganhou tanta força exatamente porque a Lava-Jato e a do impeachment perderam força. Acho que a equação se inverte. Se este negócio de impeachment estivesse na ordem do dia, a pauta do mosquito ia para o rodapé, para o fim da página. Eu acho que ganhou força porque a outra perdeu. Ninguém leva mais muito a sério fazer o impedimento da presidente da República. Não vejo um ator relevante tratando disso com seriedade, não vejo um partido de oposição, uma organização social ou uma igreja. Ou seja, é uma coisa rarefeita, existe, mas sem representatividade política, social ou econômica. Não tem uma organização empresarial relevante, pelo contrário. Terminou o campeonato, vai querer anular o campeonato?
Há um desgaste muito grande no governo e no PT. Como o PT vai se sair nas urnas?
A campanha presidencial está muito longe. A eleição municipal tenderá a ser muito disputada entre os dois grandes blocos, governo e oposição. Porque, se é verdade que partidos do governo estão submetidos a processos de desgaste por conta das investigações, é verdade também que as investigações não deixaram incólumes os partidos de oposição e os partidos de oposição se colocaram como alternativas à situação. Ou seja, você examina uma eleição como a de São Paulo em que, mesmo com todo o desgaste, o candidato do PT tem, nas pesquisas, mais apoio do que o candidato da oposição, ou os candidatos da oposição. É claro que a tendência do PT é arcar com um desgaste maior e com perdas maiores, em função das investigações, mas ainda terá muita força eleitoral como as pesquisas indicam.
O PCdoB vai continuar apoiando o Haddad em São Paulo?
Hoje em dia, há uma relativa autonomia dos partidos, embora o PCdoB tenha uma orientação nacional. Mas a orientação nacional do PCdoB é de compormos com a base aliada do governo. No Recife, o vice do prefeito do PSB é do PCdoB. Então, nós temos uma posição aberta em relação aos aliados. Temos alianças com o PT, talvez, no momento um pouco maior, mas nós temos com o PMDB, o PSB, o PDT
Como o senhor vê a ameaça de cassação da Dilma no TSE?
Eu não creio, eu já vi manifestação de juristas e do próprio procurador-geral de que reduzem bastante as possibilidades de você reenvolver um presidente e o vice por uma ação partidária, aquilo ali é um jogo da oposição. Não foi nem uma ação própria do tribunal, foi uma ação do partido PSDB. Eu não creio que aquilo tenha consistência para tirar o mandato de presidente e vice.
O governo, porém, não parece reagir.
Pode não ter tido nada de novo, mas teve de bom. O que teve de bom foi o líder do PMDB ser escolhido e ser um líder que tem compromisso, que é aliado do governo. Esse é um fato capaz de desencadear novos fatos positivos para o governo e para o país.
Por exemplo?
Eu creio que a vitória do deputado Picciani sinaliza que o governo tem maioria no PMDB, que o PT, juntamente ao PMDB, forma um núcleo capaz de arregimentar os outros partidos da base, para dar maioria ao governo e perspectiva de aprovação de coisas importantes, como as medidas relacionadas ao ajuste da economia, à CPMF, às desvinculações de receita e à reforma da Previdência.
O Eduardo Cunha vai cair?
Eu acho que ele ainda demonstrou muita força na eleição da liderança do PMDB. O governo venceu, mas o Eduardo Cunha ainda demonstrou uma capacidade de articulação e que tem uma bancada que guarda um relativo nível de fidelidade às orientações dele.
O senhor está confortável na Defesa?
Eu diria que estou cumprindo a minha missão, a minha tarefa. Eu procuro sempre cumprir as minhas missões onde eu sou destacado e designado para isso. Tenho, como militar, uma relação de respeito, isso desde que cheguei à Câmara e passei a integrar a comissão de relações exteriores e a de defesa nacional, desde essa época eu tenho uma relativa convivência com os militares e com a agenda de Defesa. Como não era um deputado ligado a nenhuma corporação, sempre tratei desses assuntos de defesa nacional e de relações internacionais, presidi essa comissão e acho que aqui eu posso trabalhar à vontade com as Forças Armadas e com os militares, tendo como denominador comum o interesse público e a Defesa em um interesse nacional.
Como o senhor avalia as denúncias contra Lula?
Parte da luta política no Brasil. Nós vivemos a reprodução de enfrentamento, como nós vivemos na época do Vargas, que levou o presidente a suicídio, vivemos isso na época do presidente João Goulart, vivemos recentemente no próprio governo Lula. E o Lula fora do governo também está na mesma agenda. Para desgastá-lo, para desacreditá-lo como liderança e como possibilidade real para 2018. Ele tem se defendido, tem procurado explicar as posições dele, principalmente na Lava-Jato, do sítio, do apartamento no Guarujá, mas eu acho que, no fundo, tem uma luta política. “Se este negócio do impeachment estivesse na ordem do dia, a pauta do mosquito iria para o rodapé”.
FONTE: Correio Braziliense
Quem nos dera na atual conjuntura ter nada mais nada menos que R$112 bilhões de reais para a defesa, seríamos o terceiro maior investidor de defesa do mundo superando inclusive a Rússia, e se fosse direcionados devidamente, poderiam haver profissionalização de pessoal (inclusive firmando parcerias com a iniciativa privada para alavancar o setor de educação tecnológica) adequação de salários, simplesmente dá pra crescer a defesa do nosso país e de quebra alavancar outros setores, mas aqui vai minha opinião, não gastamos 2% do PIB devido a pressão e articulação dos EUA no nosso congresso, quem acompanha já sabe que eles financiam pessoal para aprovar e desaprovar as leis que eles querem, tanto que a Lava jato apesar de benéfica em alguns quesitos, tem destroçado a defesa do nosso país, e todos os envolvidos são alinhados com o ideal do Tio Sam de submeter nosso país a sua égide. Desde já afirmo que essa é minha opinião segundo minha observação dos fatos.
Sabemos que 2% não é o ideal porém já é um caminho, seria muito bom na casa 5% sem restrição orçamentária.
É o melhor ministro da defesa que o Brasil já teve!
Pois é Bardini, esperemos e torçamos para que o MD consiga os 2% e principalmente a garantia deste permanentemente assim como a saúde e educação, ae sim veremos nosaas forças armadas decolarem e se estabilizarem( desde que seus comandantes saibam administrar os recursos).
Sds.
Remanejamento dos ‘aposentados’ para a pasta da previdência, bem como profissionalização da tropa e gastos com pessoal mantidos em um teto de 50% do orçamento do orçamento, somando-se a 20% alocados para investimentos,, com 2% do PIB, assento em conselho de segurança seria tirar doce de criança…
Muito mais que uma cadeira pra sentar caro Bardini, teríamos poder de fogo para impor nossos interesses com mais vigor.
Não tenho acompanhado o trabalho deste ministro, aliás não acompanho mais nada nessa roça, mas se ele conseguir isso ele pode se aposentar pois conseguiu a maior vitória das forças armadas em décadas.
A única coisa que ele parece defender são os 2%. O resto é o que eu quero.
Fiz menção aos 2% mesmo rs.
2% do PIB não é nenhuma insanidade. Difícil seria convencer o parlamento e principalmente o governo. Quanto a roubalheira parece que começou ontem. Rouba-se neste país desde a época do império e corrupção começou com espelhos. Façam-me o favor!
Só mesmo no sonho para nossas forças armadas ter 2% do PIB com essa roubalheira que está ai não está sobrando dinheiro nem para coisas importantes talvez daqui uns 20 anos consiga. Tem um projeto da deputada Perpetua para conceder royalties para 3 forças poderia ser do minério, petróleo porque não incluir o da corrupção.
2,5 % do PIB para a defesa seria o ideal , fora isso, sempre sofreremos cortes nos orçamentos. Mas esperem ” sentados” amigos , pois em pé vão cansar.
Boa tarde !
Só agora que o gorveno vem dado a devida importâncias para as FFAAs , espero que desta vez ñ seja apenas coversas alheias jogadas ao ventos , pois já faz mais de 25 anos que ñ se faz algo realmente concreto nas FFAAs , só maquiando digamos assim , o senaro mundial ñ permite mais vivendo de maquiagens políticas , e que realmente tenhamos ação real em investimentos tanto nas FFAAs como na saúde pública e na educação , pois já deu , a nação brasileira ñ aguenta mais de tantas balelas o Brasil (o povo ) já se acordou ! .
Nunca havia visto um ministro, principalmente da pasta da defesa falar em recursos mínimos para a Defesa, precisou ser um comunista para lembrar disto? além disto vale ressaltar que pode ser um jogo para torcida, pois não acredito que Dilma possa pensar em algo além de 2 dígitos para a defesa. não estou condenando, execrando-a por esta posição leigos sempre acham que defesa não é importante e ver um leigo assumir isto como prioridade e colocar na ordem do dia é muito importante. Nem nos governos militares alguém assumiu uma posição destas.