Por Ígor Berta
O Exército Brasileiro adquiriu como Carro de Combate as viaturas da família Leopard. Oriundas da Alemanha, tais viaturas são mundialmente conhecidas devido ao seu poder de combate. A Viatura Blindada Especial Lançadora de Pontes, pertencente a essa família, é capaz de lançar uma ponte para cobrir um vão de até vinte metros em um tempo médio de três minutos. Além disso, maximiza o apoio de um Batalhão de Engenharia de Combate Blindado, orgânico das Brigadas Blindadas.
Seu uso é fundamental para o prosseguimento da missão de uma Força-Tarefa Blindada, possibilitando a essa fração continuar em sua manobra. As Forças de Defesa alemãs dispõem dessas viaturas em suas Organizações Militares de Engenharia desde a década de 1970. O contato com militares alemães possibilita a troca de conhecimentos, importantes para o aperfeiçoamento do uso e da doutrina de emprego dessas viaturas no Exército Brasileiro.
1. INTRODUÇÃO
O Exército Brasileiro adquiriu os Carros de Combate (CC) Leopard 1 A5 e junto a essas viaturas vieram outras de apoio no mesmo chassi desse CC. A Viatura Blindada Especial Lançadora de Pontes (VBE L Pnt) é uma delas.
Com origem na Alemanha no ano de 1973, a VBE L Pnt foi criada com a finalidade de lançar e recolher pontes, tendo por objetivo possibilitar uma rápida transposição de obstáculos (até 20m) em benefício de viaturas pertencentes a Forças Tarefas Blindadas (FT Bld).
Podendo transpor veículos com classe até 50 (viaturas a 10 km/h) ou classe 60 (viaturas a 5 km/h), ela permite a transposição de todas as viaturas blindadas em uso hoje pelo Exército Brasileiro.
O peso da viatura e da ponte são, respectivamente, 35,1 e 9,94 ton. A altura, sem aponte é de 3,25m e o comprimento de 10,59m. Com a ponte é de, respectivamente, 4m e 11,82m. Possui um tanque com capacidade de 985l de óleo diesel, e autonomia máxima de 450 km. O consumo médio é 3,5 l/km. Possui como guarnição (Gu) dois militares: um terceiro sargento motorista/operador e um segundo sargento comandante da viatura, podendo também ser operada ou comandada por um oficial. O curso de especialização é realizado nos anos ímpares no Centro de Instrução de Blindados (CI Bld), na cidade de Santa Maria–RS. Com a duração de doze semanas, o curso tem por objetivo habilitar oficiais e sargentos para exercer funções que exijam conhecimentos técnicos e práticas especializadas para a operação da VBE L Pnt.
Durante o curso realizado na Escola de Engenharia do Exército Alemão e, em prosseguimento, o Estágio Prático no 1o Batalhão de Engenharia de Combate Blindado, pode-se observar o emprego da VBE L Pnt por aquele Exército, bem como suas peculiaridades e possibilidades, além de aprender conhecimentos técnicos e doutrinários não utilizados pelo Exército Brasileiro. Na Alemanha, a Escola de Engenharia do Exército Alemão (EEEA), localizada na cidade de Ingolstadt, ministra dois cursos por ano. Os instruendos são sargentos, cabos e soldados que servem em pelotões que possuem essa viatura. A duração do curso é de quatro semanas, sendo pré-requisito o militar possuir habilitação para dirigir viaturas sobre lagartas. O curso confere ao aluno a habilitação para operar a viatura. A VBE L Pnt é comandada por um sargento e operada por um soldado. Essa função, no entanto, não é específica, podendo variar de acordo com a experiência dos militares.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 Quadro de Organização das VBE L Pnt
No Brasil, as VBE L Pnt estão enquadradas no Grupo de Pontes de Pequenas Brechas (Gp Pnt P Bre) / Pelotão de Comando e Apoio (Pel C Ap)/ Companhia de Engenharia de Pontes (Cia E Pnt)/ Batalhão de Engenharia de Combate Blindado (BE Cmb Bld). São previstas quatro viaturas por BE Cmb Bld. O Brasil possui dois BE Cmb Bld: o 5o e o 12o, localizados, respectivamente, em Porto União–SC e Alegrete–RS. No entanto, existem apenas duas VBE L Pnt em cada um desses quartéis. No Quadro de Organização dessas frações, os cargos previstos para cada VBE L Pnt são de um terceiro sargento comandante, um cabo motorista e um soldado pontoneiro. No Exército Alemão, as VBE L Pnt estão enquadradas no Grupo de Pontes de Pequenas Brechas / Pelotão de Equipamentos de Engenharia Blindados (Pel Eq Eng Bld) / Companhia de Engenharia de Combate Blindada (Cia E Cmb Bld) / Batalhão de Engenharia de Combate Blindado.
Possui também quatro viaturas por BE Cmb Bld. Em sua estrutura, o Exército Alemão conta com seis BE Cmb Bld. No total, existem 34 VBE L Pnt em operação naquele país. Nos Quadros de Organização o motorista é sempre um soldado e o comandante, um segundo ou terceiro sargento.
Nota-se que o Exército Alemão possui um pelotão específico para as viaturas blindadas, orgânico de uma Cia E Cmb. Nesse pelotão também estão enquadradas as Viaturas Blindadas de Combate de Engenharia (VBC Eng). Cada BE Cmb Bld possui também duas Cia E Cmb. Enquanto no Brasil as VBE L Pnt ficam centralizadas na Cia E Pnt, na Alemanha elas ficam descentralizadas nas Cia E Cmb Bld.
O Pel Eq Eng Bld está apto a cumprir missões que envolvam o uso de equipamentos de engenharia sobre lagartas. Conta com duas VBC Eng, duas VBE L Pnt, com duas pontes sobressalentes, bem como outros equipamentos sobre lagartas.
2.2 Manutenção das Viaturas
O sistema de manutenção das viaturas da família Leopard no Brasil funciona de maneira centralizada. Existem quatro níveis de manutenção (F1, F2, F3 e F4). A letra “F” vem da palavra Frist, que significa prazo. Podemos dizer que equivale do primeiro ao quarto escalão. O nível F1 deve ser executado pelo operador na própria OM a cada 3 meses. O nível F2 é de responsabilidade da OM detentora da viatura, a cada 6 meses. Os níveis F3 e F4, que devem ser realizados a cada um e dois anos, respectivamente, é realizado no Parque Regional de Manutenção 3, em Santa Maria-RS, para as viaturas pertencentes a 6ª Brigada de Infantaria Blindada, ou no 5º Batalhão Logístico, localizado em Curitiba-PR, para os blindados pertencentes à 5ª Brigada de Cavalaria Blindada. Nestas duas cidades existem escritórios da empresa alemã Krauss-Maffei-Wegmann (KMW), responsável por importar as peças necessárias a manutenção dos veículos da família Leopard. As viaturas precisam ser conduzidas a estes quartéis logísticos e lá manutenidas.
Na Alemanha a estrutura de manutenção é descentralizada. O primeiro escalão também é realizada pelo operador. Mas em cada batalhão que possua blindados, existe uma oficina terceirizada. A empresa que presta apoio é Heeresinstandsetzunglogistik – HIL (Logística de Manutenção do Exército). Nesta oficina existem mecânicos que estão em condições de realizar a manutenção desde a F2 até a F4. O resultado prático é que o tempo em que uma viatura fica afastada de sua atividade fim é muito curto, possibilitando um aumento na operacionalidade das OM que possuem estes blindados.
2.3 Transporte Administrativo e Carregamento das Pontes e da Viatura
No Brasil executa-se como carregamento padrão o procedimento “quartos de ponte sobre a prancha reta”.
Consiste em lançamento, divisão e embarque da ponte, o que requer a VBE L Pnt, uma VBC Eng e duas Viaturas Prancha Reta (VPR), além de um Grupo de Engenharia (GE). O tempo estimado de embarque é de duas horas, considerando que todo o pessoal envolvido esteja adestrado na operação. Estima-se o mesmo tempo para o
descarregamento e montagem da ponte.
Considerando ainda o tempo para transporte da ponte e das viaturas, essa operação pode levar um dia inteiro.
Uma das VPR necessita ainda fazer duas viagens, uma com a VBE L Pnt e outra com a VBC Eng.
O Exército Alemão utiliza principalmente a forma ferroviária para o transporte de viaturas. Neste caso, a ponte também é dividida. Cada VBE L Pnt, no entanto, possui uma ponte sobressalente, que é transportada por um caminhão 5 Ton e um reboque, sendo guarnecida por dois soldados. Para a realização do embarque ou desembarque para transporte, não é necessário o uso da VBC Eng ou do GE. A Gu da VBE L Pnt e do caminhão têm condições de realizar esse processo. O tempo estimado para o carregamento ou descarregamento é de 15 minutos. A viatura reboque possibilita o transporte da ponte na forma de “pacote”, que está pronta para ser carregada pela VBE L Pnt.
Com uma fabricação bastante simples, tais reboques aumentam muito a operacionalidade da VBE L Pnt, seja para a redução do tempo de transporte, seja na velocidade para lançamento de pontes conjugadas. Dentre as vantagens no uso desse reboque, destacam-se a redução do tempo para o embarque/desembarque da ponte na VBE L Pnt, a economia de meios e pessoal e o menor consumo de combustível durante a operação.
2.4 Pontes Conjugadas
Uma das possibilidades da VBE L Pnt é transpor vãos de até 45m de largura, com 2,5m de profundidade e correnteza máxima de 1,7 m/s ou ainda profundidade de 1,5m e correnteza máxima de 1,7 m/s. Para tanto, tem-se a necessidade de fazer o lançamento, utilizando-se duas (até 30m) ou três (até 4 5m) pontes. Se o obstáculo for uma
barreira ou um lago, a profundidade máxima sobe para 4,5m.
Utiliza-se um adaptador na lâmina de apoio, para que ela não danifique as pontes durante os lançamentos da segunda e/ou terceira pontes. Esse adaptador é facilmente encaixado e deixa a lâmina de apoio a uma altura de 20 cm da ponte, evitando que ela seja danificada.
Antes do lançamento, deve-se fazer um reconhecimento para se conhecer a largura e profundidade exatas do obstáculo. Monta-se um esboço de como está o obstáculo e onde ficarão as diversas pontes. Depois disso, marca-se na ponte onde a seguinte deverá ser apoiada. Coloca-se uma prancha de madeira em cada lado para que uma ponte não danifique a outra.
Essa é uma técnica eficiente, porém de difícil execução. Necessita da presença do comandante de pelotão e duas VBE L Pnt com Gu adestradas. Um reconhecimento detalhado deve ser executado, de maneira a conhecer o perfil do rio, de maneira a escolher o local mais apropriado de travessia.
O apoio da VBC Eng é necessário quando as margens possuem uma inclinação maior do que 10% ou ainda quando o perfil do curso d’água impedir o lançamento. Nesse caso, ela deve entrar no fundo do obstáculo com o objetivo de permitir o lançamento das pontes. Essa operação leva algum tempo, dificultando uma transposição imediata do obstáculo. O Exército Alemão emprega essa técnica para a transposição de barreiras e cursos d’água e, no caso de rios, quando as características do rio impedirem o uso da ponte M3.
3 CONCLUSÃO
A aquisição dessas viaturas pelo Exército Brasileiro permite um apoio eficaz de Engenharia às Grandes Unidades Blindadas de nossa Força, principalmente no apoio à mobilidade de FT em manobras ofensivas. Permite também a transposição imediata de pequenos cursos d’água ou fossos anti-carro, aumentando o fator surpresa durante o ataque.
O Exército Alemão dispõe desta viatura há quase quarenta anos. Somando-se o fato de esta ter sido utilizada em missões reais durante a campanha do Afeganistão e ainda no contexto da Guerra Fria, o aprendizado com estes militares permite a absorção de conhecimentos e experiências que possibilitam a modernização da doutrina e técnicas de emprego dessas viaturas em nossos quartéis, elevando o nome da arma azul turquesa perante as outras armas.
FONTE: Resenha do EB
Na Alemanha e no TO Europeu as capacidades de extensão deste sistema cobrem mais de 90% das necessidades de transposição de rios europeus…
Aqui no Brasil não chega a tanto, a utilidade é bem mais limitada pelos nossos rios no SUL e SUDESTE, não vou falar nem no TOs Centro-Oeste e Amazônico…
Poderíamos ter desenvolvido uma versão nacional de viatura similar a essa, só que como plataforma poderíamos ter usados os M-41 que doamos aos montes ao Paraguai e outros países; sem falar nas unidades que apodrecem nos Arsenais de Guerra do EB Brasil a fora.
Além de versão lança pontes, poderiam ter usado esses veículos ( M-41) para desminagen de campo de batalha.
Mas estamos falando de Brasil, e aqui a falta se visão estratégica é descomunal.
como laçadores de ponte pode
ate serem uteis mas como carro de combate na Alemanha eles estão indo por ferro velho