Por Dann Albright
Ao longo da história das guerras, a introdução de algumas inovações foram cruciais na mudança da forma de lutar: o advento das armas de fogo, a introdução da força nuclear e respectivos artefatos e o lançamento de satélites militares só para citar alguns. Uma nova mudança está em curso nos campos de batalha do mundo: as batalhas estão sendo lutadas cada vez mais por drones.
Sem dúvida que pessoas ainda não deixaram de estar na linha de frente, e nem deixaram de estar (O Pentágono declarou ano passado que existem 1,4 milhões de soldados da ativa em frentes espalhadas no mundo), mas a quantidade e o seu papel no cenário de batalha pode ser bem diferente nos dias de hoje. Não há dúvida de que os drones estão mudando a face da guerra: os militares sempre estiveram presentes nas inovações tecnológicas, mas nenhuma delas, até agora, foi dada como merecedora das atenções sem ter que por mais homens na frente de combate para obter resultados.
Todos os indicadores apontam para um aumento no uso dessa tecnologia. Um estudo acadêmico recente publicado por Maria Rosaria Taddeo relata que o governo americano pôs em operação 150 “armas-robôs” em 2004, e assombrosos 12.000 em 2008. Isso significa um aumento de 80 vezes em apenas 4 anos (apesar de ser importante ressaltar que a maioria desses drones não carrega armamento).
O Crescente Uso de Drones
Os Drones não são usados apenas para fins militares. A aduana americana e a guarda de fronteira se valem de drones tipo “Reaper” para patrulhar as divisas entre os EUA e seus vizinhos. O Departamento de Segurança Interna também declarou que os usa. A polícia e os bombeiros em diversas partes do país estão adquirindo drones para auxiliar no seu trabalho. Empresas varejistas também estão testando drones na entrega das suas encomendas. Você pode até ter um deles para segui-lo e seguir lhe filmando. O FAA estima que por volta de 202 haverá cerca de 30.000 drones operando no espaço aéreo doméstico.
Um site dedicado à segurança nacional americana, estima que cada país do mundo terá desenvolvido a sua tecnologia de drones voltada para a área militar nos próximos 10 anos. Claro que essa escalada de drones não é um evento isolado. O campo de batalha cibernético está se tornando um dos mais ativos nos conflitos internacionais. A “guerra de informações” ou “information warfare”, um termo que usualmente inclui tanto drones quanto guerras cibernéticas, também deu margem ao surgimento à criação de robôs militares terrestres que independem de controle humano. Enquanto a maioria dos drones depende de um controle feito por soldados de forma remota, o sul coreano SGR-A1 (produzido pela subsidiária de defesa da Samsung) e o russo Taifun-M são dois exemplos de robôs auto-operados dotados de capacidade letal.
É óbvio que os drones estão mudando rapidamente a face do mundo, inicialmente em relação às guerras, mas também no setor civil. O que essa mudança pode significar no futuro? No momento, há muita especulação e muita discussão sobre o assunto. Líderes globais sempre tiveram que justificar para a população o porque de se ir à guerra, afirmando que existe uma boa causa que justifique o derramamento do sangue dos seus filhos. Mas o que acontece quando não há mais sangue a ser derramado? Ficarão os países mais propensos à guerra? Tim Hsia e JaredSperli concordam com essa visão. No seu blog no New York Times eles disseram exatamente isso.
No fim das contas, parece ser possível que essas mudanças drásticas tornem mais fácil ganhar uma guerra uma vez que o risco para os recrutas é minimizado. As guerras, no futuro,serão lutadas não apenas por soldados em coturnos, mas, também, por soldados em frente à computadores e monitores de vídeo. Os guerreiros do futuro serão muito parecidos com os atuais gamers civis nos seus XBox.
E se acompanha os ataques feitos pelos drones dos EUA, você sabe que esses ataques normalmente são feitos em países com os quais ainda não se declarou formalmente uma guerra, sendo geralmente medidas contraterroristas. Alguns dizem que isso é preocupante por dar ao braço executivo do governo um poder militar excessivo, distorcendo o equilíbrio de poder dentro do próprio governo.
Peter Singer, em uma entrevista com a NPR, apontou para o fato de que Obama distorceu a autorização do congresso para agir militarmente na Líbia, afirmando que um suporte aéreo para os esforços europeus não trariam risco às forças americanas. Entretanto, ele disse, os EUA realizaram 146 ataques aéreos na Líbia, incluindo o ataque final que contribuiu para a captura do de Moammar Gadhafi.
146 ataques aéreos soa muito como uma declaração de guerra. Mas foi feita sem a autorização do congresso. E isso deixa muitas pessoas desconfortáveis. Um recente relatório do Stimson Center em Washigton DC, criticou o governo americano sobre o uso da tecnologia dos drones, dizendo que isso desafia a soberania dos demais países, e pode criar um “efeito dominó” encorajando os outros países a praticar ataques legalmente questionáveis de drones.
Obviamente o futuro das guerras está no ar (o trocadilho é intencional). É devido a esse aspecto geopolítico que ocorrem as discussões, esta inclusive, sobre o uso ou não de drones militarmente. Há apenas uma coisa que todos nós sabemos e que temos certeza: é de que essa tecnologia que está sendo desenvolvida para uso em drones militares de ponta e as contramedidas que isso pode proporcionar, são de tirar o fôlego de qualquer um.
Tecnologia de Drones Militares:
Nesse momento, os drones não são a única coisa tecnologicamente avanças. O drone “Predator” original voa à 84 milhas/h, não muito mais rápido do que esse trem, no qual eu escrevo esse artigo. A inteligência militar dos EUA admite publicamente que não é tão difícil derrubar um drone. Mas isso mudará em breve.
Um novo drone de vigilância está prestes a ser posto em operação o RQ-180 da NorthropGrumman, que incorpora a tecnologia “stealth” que impede a sua detecção por radares. De acordo com a Aviation Week, ele tem uma envergadura de 130 pés e tem a capacidade de se manter no ar por um longo período, acredita-se que por cerca de 2 horas.
O SR-72, um drone em desenvolvimento pela Lockheed Martin, é projetado para voar a 6 vezes a velocidade do som, e de servir tanto como drone de vigilância quanto de ataque. Pode ser relativamente fácil derrubar um “Predator” ou um “Reaper”, mas acho que vai ser bem difícil acertar algo que se move à Mach 6.
O Pentágono está apoiando financeiramente outro projeto da Northrop, o X-47, um drone triangular de combate com asas dobráveis que pode decolar e aterrissar em porta aviões, aumentando, assim, o alcance global do programa americano de drones. De acordo com o cronograma do Depto de Defesa Americano para drones, o próprio departamento acredita que missões globais autônomas serão uma realidade por volta de 2022.
Claro que autonomia efetiva é algo que ainda não se tem, o que o torna obviamente, um objetivo a ser alcançado. O mesmo cronograma estabelece que “controle efetivo sem a interferência humana” deve ser atingido em 2018, permitindo que dois drones completamente autônomos possam trocar informações entre si. Imagine um drone realizando um turno de vigilância no limite da atmosfera, enviando instruções de ataque para outro e o segundo perfazendo um ataque perfeito, sem a interferência do ser humano. A capacidade de um drone de vigilância detectar pontos de interesse é de grande interesse militar.
Ter soldados e homens da inteligência revendo os vídeos e fotos tirados por drones tomam muito tempo e esforço. Seria muito mais eficiente se os drones simplesmente pudessem ler itens marcados como de interesse militar (esse é o tipo de coisa na qual o DARPA está trabalhando, e você pode ter certeza de que eles estão trazendo suas tecnologias computacionais mais avançadas para solucionar o problema).
Se você já viu um drone militar, já sabe que eles são bem grandes (se ainda não viu, vá ao Smithsonian Air and Space Museum em Washigton DC e veja um drone “Predator” lá. É uma experiência fascinante e excitante ao mesmo tempo). Muitos avanços foram feitos na direção de criar drones menores. É nesse ponto que a tecnologia atual se confunde com a ficção científica.
Pesquisadores estão construindo drones do tamanho de insetos que podem ser usados para reconhecimento ou ataques, e apesar de ser difícil estimar quando essa tecnologia será posta em operação nos campos de batalha, é uma aposta certa de que ela está em testes nesse exato momento. E uma vez que sejam postas em operação, não há dúvidas de que foi atingida uma nova era na esfera militar.
A Tecnologia Anti-Drones
A tecnologia dos drones não é a única coisa que avança rapidamente. Organizações civis e militares se esforçam no desenvolvimento de contramedidas para os drones. A Boeing, por exemplo, testou recentemente um canhão laser anti-drones que pode derrubar drones, foguetes, e obuses de 60mm dentre mais de 100 outros tipos de alvo. Como teste, foi usado um laser de 10kW, mas a Boeing planeja aumentar a potência para 50 ou 60kW quando for destinado ao uso militar. O mais curioso desse teste é que o operador do laser usava um controle de XBox. A marinha americana testou um aparato similar no ano passado, que derrubou um drone militar durante uma simulação em tempo real. Esses lasers serão instalados em barcos e caminhões, tornando-os móveis o bastante para promover a defesa de uma vasta área de território.
Mas e os outros tipos de tecnologia anti-drones? O fato é que os UAVs são plataformas que necessitam de GPS, rádio, e outras formas de sinal, o que os torna suscetível a outras formas de ataque.
O Irã alega ter conseguido, há alguns anos atrás, “hackear” um drone americano e tê-lo feito pousar, enquanto os EUA afirmam que esse drone teve uma pane e caiu. De qualquer forma, fica claro que “hackear” um drone pode ser um problema a ser seriamente considerado. Uma empresa do Oregon, a Domestic Drone Countermeasures, LLC, vem desenvolvendo já há algum tempo um sistema de detecção eletrônica de drones, apesar da malfadada campanha Kickstarter. Enquanto o sistema atualmente só detecta drones em vôo baixo, como os usados por civis e polícia, eles esperam que esse sistema possa vir a desativar a câmera e outros sensores desses drones.
O Futuro das Guerras
Como se pode ver, o mundo da Guerra dos drones é um lugar complexo. O mundo ainda segue tentando imaginar como fazer dos drones armas de guerra. As Nações Unidas têm debatido o assunto, e irá liberar uma posição à respeito por volta de Novembro. Essa tecnologia é por demais impressionante, e nós só podemos esperar que as pesquisas desaguem mais e mais nas esferas civis e do dia-a-dia. Porém, essa tecnologia é a única parte do sistema de defesa que irá determinar como as nações irão ganhar suas guerras no futuro.
Hsia e Sperli resume esse assunto de forma perfeita
O futuro requer uma área militar ágil que esteja apta a vencer guerras dentro do mais vasto espectro de possibilidades, desde contra-insurgências em regiões tribais remotas do Afeganistão até uma campanha de ataque cibernético possivelmente iniciada a partir de um porão de um agente estatal ou paraestatal. Como muitas das principais mudanças na sociedade atual, o problema não é se a tecnologia será ou não acompanhada de uma certa reserva e medo mas, sim, se os líderes mundiais entenderão, na sua totalidade, as consequências morais, políticas e sociais do uso de tais tecnologias.
O que você acha de drones serem usados como armas de guerra? Elas devem ser usadas? As implicações éticas são muito grandes? Ou você prefere que essas sejam as novas armas de ataque ao invés de ter os nossos soldados mortos, não interessando as implicações políticas e ideológicas?
TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: Defesa Aérea & Naval
FONTE: “Drone Wars: How UAV Tech Is Transforming the Future of War”