A busca pelo incremento das atividades de adestramento, aprimoramento da destreza individual e capacitação das frações levou a Força Terrestre ao emprego crescente de uma valiosa ferramenta de apoio: a SIMULAÇÃO.
O Exército Brasileiro (EB) emprega simuladores no adestramento da tropa desde que foi realizado o primeiro treinamento visando ao combate. Afinal, tudo o que não é guerra, é simulação.
Nesse contexto, tem utilizado diversos simuladores. Os mais conhecidos e de uso frequente são os redutores de calibre, a munição de festim, as torres de salto e outros aparelhos e equipamentos que, rusticamente, simulam atividades mais complexas ou de alto custo.
Com o avanço da tecnologia da informação, o adestramento passou a ser realizado com simuladores mais modernos. Esses sistemas, equipamentos e dispositivos de simulação possuem elevada carga tecnológica e, cada vez mais, retratam a realidade do ambiente de combate, simulando os fatores psicológicos, o desgaste físico, a alteração climática, a duração do combate, dentre outros aspectos.
Além de retratar a realidade de forma cada vez mais fidedigna, a simulação apresenta diversas soluções para sobrepor-se às dificuldades do mundo moderno, dentre as quais destacam-se a redução de orçamento, a escassez de campos de instrução, o risco inerente à atividade militar, o emprego cada vez maior de tropa em ambientes urbanos e povoados e a necessidade de repetir seu adestramento até atingir o nível desejado.
Com o Processo de Transformação da Força Terrestre (F Ter), a simulação foi inserida nos sete principais Projetos Estratégicos do Exército (PEE): GUARANI, PROTEGER, RECOP, DEFESA ANTIAÉREA, ASTROS 2020, SISFRON e DEFESA CIBERNÉTICA. Assim, vislumbra-se um futuro bastante promissor, no qual a F Ter contará sempre com a simulação no adestramento da tropa, nas áreas técnica, tática ou de procedimentos, do comandante ao soldado.
Os comandantes e seus estados-maiores, bem como os alunos do Curso de Comando e Estado-Maior (CCEM) e do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais (CAO), têm sido adestrados por meio da simulação construtiva (Jogos de Guerra) desde 1990. Após a fase inicial de universalização, a quebra de paradigmas e a afirmação da simulação construtiva, o COTER pôde investir na aquisição de um sistema capaz de simular não apenas operações convencionais de defesa, mas, também, atividades de proteção, tais como enchentes e catástrofes, resgate de não combatentes, proteção de infraestruturas estratégicas e outras operações de não guerra.
Esse novo sistema, denominado COMBATER, trará novas possibilidades, tais como o gerenciamento de crises, a simulação de planejamentos operacionais baseados em capacidades, a experimentação doutrinária, a pesquisa operacional e a operação interagências. Com plataforma moderna, possibilitará a integração com o Sistema de Comando e Controle da Força Terrestre (C² Cmb) e com os simuladores da Força Aérea e da Marinha, permitindo a realização de exercícios conjuntos simulados. É um sistema completo, cuja inteligência artificial permitirá a avaliação de linhas de ação apresentadas por alunos do CCEM e do CAO. Tendo sido realizada a aquisição do software, o processo vive agora a fase de adaptação e transição da doutrina já existente em seu banco de dados para a Doutrina Militar do Exército Brasileiro.
Para o adestramento e a avaliação de frações constituídas, empregando pessoas reais, armamento real, ambiente real e interação entre os participantes (simulação viva), o Exército Brasileiro emprega o Centro de Avaliação de Adestramento do Exército (CAAdEx) desde 1995. Nessa Organização Militar (OM), são realizados, anualmente, exercícios até o nível subunidade, para o adestramento de militares integrantes das Forças de Ação Estratégicas do Exército e o treinamento de tropas que comporão a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH), empregando Dispositivos de Simulação e Engajamento Tático (DSET), que permitem o sensoriamento do disparo simulado de armas portáteis de uso individual e coletivo por meio de laser, apresentando o resultado em tempo real e dando maior realismo às ações.
A simulação virtual, na qual pessoas reais empregam equipamentos simulados em cenários virtuais, vem se expandindo, fruto da chegada do helicóptero e do blindado Leopard, bem como com a implementação do projeto GUARANI. O Centro de Instrução de Aviação do Exército (CIAvEx) desenvolveu seus simuladores com o apoio da indústria nacional, e o Centro de Instrução de Blindados (CIBld) recebeu os simuladores do fabricante do carro Leopard 1A5. Esses sistemas permitem o treinamento dos procedimentos das tripulações e o adestramento tático no nível pelotão. No CIBld, uma rede com sistemas de simulação virtual permite o treinamento de uma subunidade em um cenário tático, inclusive contando com os apoios de engenharia e artilharia. No projeto GUARANI, o subprojeto “Simuladores” implantou o Treinamento Baseado em Computadores (TBC) com a aquisição de tablets, para que o mecânico possa se adestrar mesmo sem a chegada do carro. No decorrer do projeto, serão desenvolvidos, pelo Departamento de Ciência e Tecnologia, os simuladores das ações do motorista, do comandante do carro e do atirador.
Para o treinamento individual, foram adquiridos e distribuídos simuladores de tiro de armas portáteis para o Batalhão de Polícia do Exército de Brasília e para o 20º Batalhão de Infantaria Blindado. O objetivo inicial é criar uma metodologia para a realização dos tiros previstos nas Instruções Gerais para o Tiro das Armas do Exército e para a avaliação dos resultados.
Nesse cenário de treinamento individual, estão incluídos também os simuladores de conduta auto para viaturas leves e pesadas, já em uso pelos motoristas do 16º Batalhão Logístico (B Log), e o manequim adulto para treinamento de primeiros socorros, distribuídos para todos os B Log em 2012.
Assim, o Departamento de Ensino e Cultura do Exército (DECEX) implantou o projeto do Simulador de Apoio de Fogo (SAFO). Constituído de duas unidades de simulação, a serem construídas na Academia Militar das Agulhas Negras (Resende/RJ) e no Campo de Instrução de Santa Maria (RS), realizará o adestramento de mais de 80% dos Grupos de Artilharia de Campanha, que se encontram localizados a menos de cinco horas de deslocamento terrestre de uma dessas unidades de simulação, bem como atenderá às necessidades de ensino e de instrução de tiros indiretos de todos os cadetes e alunos dos sistemas subordinados ao DECEx.
A experiência advinda de todo esse trabalho na área de simulação passou a ser respeitada e expandida pelos meios acadêmicos e pelas empresas do Brasil e do mundo. A ferramenta utilizada para isso foi o debate sobre o uso da simulação com a realização do Workshop de Simulação e Tecnologia Militar (WSTM), nos anos de 2011 e 2012, no Quartel-General do Exército (Brasília). Constando de uma exposição de empresas brasileiras e estrangeiras e também de uma conferência temática com a apresentação de especialistas civis e militares, esse evento propiciou que militares das três Forças Armadas, especialistas da indústria e integrantes das universidades e dos institutos de pesquisa se conhecessem e trocassem experiências. Permitiu, também, que os militares e os decisores conhecessem, em detalhes, as possibilidades de uso da simulação no treinamento e sua contribuição para a modernização do adestramento das tropas. O WSTM 2013 ocorreu, de 15 a 17 de outubro de 2013, no Quartel-General do Exército.
Como visão de futuro, o COTER está voltado ao que há de mais moderno em termos de simulação. Assim sendo, os técnicos da sua Divisão de Simulação de Combate estão trabalhando no intuito de alcançar uma integração dos simuladores da F Ter, de modo que seja possível a implementação de vários adestramentos, em diversos níveis, no mesmo cenário e ao mesmo tempo.
Para a simulação construtiva, o COTER vislumbra a criação de Centros de Adestramento Simulado de Postos de Comando (CAS-PC) e do Centro de Adestramento Simulado e de Pesquisa Operacional (CAS-PO), bem como a especialização do pessoal envolvido na atividade de Jogos de Guerra. Assim, haverá militares especializados na Direção do Exercício e operando o sistema COMBATER.
Para a simulação virtual, o planejamento é distribuir simuladores de tiro e de conduta auto para viaturas leves e pesadas em sedes que possuam pelo menos três OM e aumentar a capacidade da simulação virtual no CIAvEx, com a ampliação de suas instalações que são voltadas para essa atividade.
Na simulação viva, a proposta é aumentar a quantidade de DSET, o que facultará ao CAAdEx realizar exercícios e avaliações no nível batalhão e distribuir DSET aos Comandos Militares de Área, de modo que eles possam realizar exercícios com até uma subunidade.
A simulação no Exército Brasileiro busca a perfeição no adestramento, a fim de obter eficiência e eficácia no emprego da tropa e de garantir um presente profícuo e um futuro promissor.
FONTE E FOTOS: Exército Brasileiro
Tecnologia boa e barata
Excelente artigo.
Pena ser incomum que artigos com este volume de informação sejam produzidos pelas forças armadas.