Por Sérgio Ruck Bueno
A Airship, uma sociedade entre a Transportes Bertolini e a Engevix para a produção de dirigíveis de carga, já recebeu os primeiros pedidos. O primeiro veículo será entregue para a Eletronorte em 2016 e será usado para levar pessoal, equipamentos e torres de transmissão de energia a áreas remotas da Amazônia.
O segundo será adquirido pela própria transportadora com sede em Bento Gonçalves (RS), que tem 50% do negócio, para movimentação de mercadorias em contêineres entre a Zona Franca de Manaus e uma central de distribuição rodoviária em Goiânia.
Diretor da Bertolini e membro do conselho de administração da Airship, Paulo Vicente Caleffi faz mistério sobre os volumes das encomendas. Em um fórum sobre logística promovido pela Câmara de Comércio Brasil-Alemanha, em Porto Alegre, o executivo limitou-se a dizer que o contrato com a Eletronorte é de R$ 30 milhões e que a transportadora iniciará a operação da rota Manaus-Goiânia com um veículo até o segundo semestre de 2017.
“O governo do [Estado americano] Alaska também fez contato conosco”, acrescentou o empresário, que não informou o valor de venda dos futuros veículos. “O primeiro será mais caro, mas com o aumento da produção o preço tende a cair”, comentou. A empresa ainda desenvolve projetos de “balões-guindastes” e já produz aeróstatos (veículos flutuantes fixos), sendo que pelo menos três deles são usados em missões de vigilância no país, acrescentou Caleffi, sem dar detalhes.
O dirigível da Airship começou a ser desenvolvido em 1992 em parceria com o Exército, como parte de um projeto que buscava alternativas para transportar suprimentos na Amazônia. Durante os estudos, técnicos visitaram oito países que dominam a tecnologia e chamou a atenção o uso do equipamento para o transporte de toras de madeira no Canadá e de minérios nos Estados Unidos.
Mais tarde, a Engevix, do grupo Desenvix, entrou no negócio, interessada na busca de um sistema para movimentação de materiais de construção em áreas remotas. Hoje a empresa tem sede em São Carlos (SP), onde já trabalham 50 engenheiros e será construída uma fábrica para o protótipo do veículo. A licença ambiental para a instalação da unidade acabou de sair, mas a produção em escala industrial poderá ser feita depois em outra cidade, que não foi revelada.
Segundo Caleffi, nos últimos três anos a Airship já investiu R$ 30 milhões no projeto, que será apresentado à presidente Dilma Rousseff. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ofereceu uma linha de crédito de R$ 130 milhões, mas a ideia é tomar apenas R$ 9 milhões, afirmou o empresário. Caleffi disse que, pelo menos por enquanto, não há planos de produzir veículos para voos de turismo. Os dirigíveis usarão gás hélio, não inflamável, para flutuação e terão quatro motores a diesel que permitirão voar a 100 quilômetros por hora a até 700 metros de altura. Com eles, uma viagem entre Manaus e Goiânia levará apenas 26 horas, contra oito dias, em média, necessários para cumprir o trajeto de caminhão. O preço do frete, de acordo com Caleffi, será “competitivo” em relação aos demais modais de transporte.
Os primeiros dirigíveis poderão carregar até 54 toneladas de carga em contêineres, o equivalente à capacidade de dois caminhões, com possibilidade de chegar a 500 toneladas no futuro. A tripulação será formada por quatro pessoas e a autonomia de voo chegará a seis sem reabastecimento ou dois meses caso o compartimento de gás seja perfurado por dois tiros de canhão. O veículo será feito com estrutura em fibra de carbono, o que o torna 80% mais leve do que os antigos dirigíveis, que voavam durante a década de 1930, disse Caleffi.
O Valor entrou em contato com a assessoria da Eletronorte, mas até o fechamento desta edição nenhum representante da companhia estava disponível para comentar o assunto.
FONTE: Valor Econômico
Os dirigíveis tiveram muito azar no campo politico. As duas guerras mundiais prejudicaram muito esse belo meio de transporte. Depois da primeira guerra mundial foram colocadas grandes restrições para que eles fossem desenvolvidos, devido ao medo que botavam como grandes bombardeiros. A Alemanha que já estava na vanguarda teve que desacelerar seus projetos. Na década de 1930, quando as restrições afrouxaram e a Zeppelin estava virando um sucesso com seus dirigíveis que tinham ampla viabilidade comercial, veio a segunda guerra mundial e mais uma vez acabou com os dirigíveis. Os americanos que vendiam hélio para a Alemanha fizeram um boicote, seguido pela necessidade de uma economia alemã totalmente voltada para a guera e seus velozes caças, afundaram de vez a Zeppelin. No pós-guerra estava todo mundo impressionado pela velocidade dos aviões a jato e se esqueceram que o mais veloz nem sempre é o mais barato e o mais prático. Os dirigíveis foram deixados para os livros de história.
A partir dos anos de 1990 principalmente, houveram várias tentativas de ressuscitar os gigantes do céu. Todas fracassadas devido a modelos de negocio feitos de forma equivocada, que davam prioridade a tecnologias muito caras, como os híbridos entre dirigíveis e helicópteros, ou transportavam cargas especiais(como turbinas de hidrelétricas), que justamente por serem especiais não tem um movimento constante, não gerando fluxo de caixa suficiente para manter uma empresa lucrativa. Nesse ponto eu aposto que esse projeto vai dar certo pelo modelo de negócio bem adequado. Primeiramente porque essa empresa Bertolini tem uma tradição de transportar no norte do Brasil. De modo que eles vão usar o dirigível para transportar cargas que eles já conhecem, em uma região que eles conhecem para clientes que já estão na carteira de negócios deles. E essas cargas são constantes, que atualmente são levadas de caminhão e balsa. Do ponto de vista tecnológico eles estão apostando em um dirigível semi-rígido, muito mais simples que aqueles projetos de híbridos com 500 toneladas de carga americanos. Com menor risco de engenharia portanto.
Que EXCELENTE notícia sempre acompanhei esta saga dos dirigíveis desde o tempo do programa do Exército e sempre fiquei decepcionado porque o governo nunca apoiou o programa.
Que bom que um empresário de uma transportadora aqui do RS junto com a Engevix resolveram se arriscar e investir dinheiro próprio neste projeto que pode ser EXTREMAMENTE IMPORTANTE para acelerar projetos de engenharia pesada pelo interior do Brasil.
E quem sabe com o sucesso comercial da AirShip do Brasil mais cedo ou mais tarde “as viúvas do projeto original do EB” consigam convençer as autoridades a retomar os investimentos em versões militares de dirigíveis de carga.
Com certeza os Pelotões de Fronteira vão adorar a ideia pois se o Exercito comprar alguns destes não precisaram mais esperar a força aérea para levar as cargas para as tropas do excército.
A maior besteira que a humanidade fez foi acabar com os dirigíveis, seria ótimo se nós os brasileiros trouxéssemos eles de volta.
Com certeza será concorrente dos trens e vias fluviais, dada à facilidade de ir a qualquer lugar e descer cargas até numa praça pública, espero.
Considerando a sazonalidade das vias fluviais e a precariedade das rodoviárias, a vantagem dos dirigíveis é enorme. Precisa ver o envelope de voo, mas isso parece que é o que pesquisam desde 1992.