A Taurus, maior fabricante de armas da América Latina, vive sua maior crise. Os resultados pioraram, os acionistas não se entendem e algumas armas vendidas para a polícia disparam sozinhas
No ano passado, em meio à onda de protestos que assolava o pais, a Policia Militar de São Paulo resolveu parar de usar, temporariamente, 98 000 pistolas calibre 40. A decisão foi tomada depois de 30 armas terem disparado sozinhas – com a trava de segurança ainda ativada – ou dado vários tiros consecutivos, apesar de o policial ter apertado o gatilho uma única vez. Em alguns casos, só uma chacoalhada foi suficiente para fazer a pistola atirar (a PM não comenta, mas policiais dizem que houve feridos). Entre 2011 e 2012, problemas idênticos haviam sido relatados pelas polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro. No fim de 2013, foi a vez da PM do Distrito Federal informar que três submetralhadoras davam tiros em rajada quando o seletor estava na posição de um tiro por vez. O ponto comum desses casos é o fato de as pistolas e as submetralhadoras terem sido feitas pela Taurus, maior fabricante de armas da America Latina e uma das dez maiores do mundo. Com faturamento de 800 milhões de reais, a Taurus reina quase sozinha no Brasil. Mesmo assim, vive uma crise sem precedentes – as armas disparam sozinhas, os acionistas brigam publicamente e, por fim, os prejuízos se avolumam.
Fundada em 1939 em Porto Alegre, a Taurus começou como uma fábrica de ferramentas. Depois da Segunda Guerra Mundial, passou a produzir revólveres e, no inicio da década de 70, foi vendida para a americana Smith & Wesson. Mas os americanos não gostaram do negócio e, em 1977, decidiram revendê-lo para três diretores brasileiros – Luis Fernando Estima, Carlos Murgel e Hebert Haupt. Estima é o único que continua até hoje: detém o maior número de ações com direito a voto, 35% do total. A companhia cresceu por 20 anos, ajudada pelas restrições à importação e à instalação de fábricas de concorrentes estrangeiros no país. Mas, a partir de 1995, com o aumento da fiscalização na venda de armamentos e a proibição da propaganda, as vendas começaram a cair. A Taurus, então, resolveu diversificar. Passou a fabricar máquinas industriais, ferramentas, contêineres, capacetes para motociclistas e coletes à prova de bala. Investiu 100 milhões de reais nisso, um terço de seu faturamento na época, mas só as linhas de capacetes e de coletes deram certo. Também pesou no caixa da empresa a compra das ações dos dois sócios de Estima, que morreram. O melhor resultado da Taurus foi em 2010, quando lucrou 70 milhões de reais. Depois disso, os números pioraram. Nos últimos dois anos, fechou no vermelho – em 2013, o prejuízo foi de 80 milhões de reais – e o endividamento, que respondia por quatro vezes a geração de caixa em 2012, cresceu para oito vezes. Além disso, as exportações para os Estados Unidos, seu maior mercado fora do Brasil, diminuíram 28% no primeiro trimestre, porque a concorrência tem vendido produtos de melhor qualidade pelo mesmo preço, segundo executivos do setor. Procurados, os executivos da Taurus não deram entrevista.
Com poucos recursos disponíveis, a companhia deixou de investir em modernização. Profissionais do setor dizem que a linha de produção é antiga e pouco eficiente e que a quantidade de produtos que eram fabricados até o fim do ano passado, cerca de 5 000, era excessiva. Nem todos davam lucro e era impossível fazer testes de qualidade cuidadosos. A Taurus começou a fazer mudanças em 2013. Está implementando um novo sistema de produção para tentar minimizar falhas e, em março, reduziu o número de produtos fabricados para 800 – o objetivo é chegar a 400 até dezembro. Mas os investidores ainda não se convenceram do plano: neste ano, as ações caíram 64%, a maior baixa da Bovespa. Mesmo que as mudanças deem certo, há outro risco para os investidores: a disputa entre Estima e os acionistas minoritários – o principal deles é a Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil – para conseguir maioria no conselho de administração e, assim, mandar na empresa. No início de 2013, Estima propôs fazer uma oferta de ações para captar recursos e reduzir o endividamento da companhia. Os minoritários, que tinham maioria no conselho. vetaram. Para eles. ainda que tenha prejuizo, a empresa consegue renegociar as dividas e amortiza-las com a geração de caixa. Em seguida, Fernando Estima, sobrinho de Luis Fernando e conselheiro da Taurus, pediu para sair do cargo, o que dissolveu o conselho e obrigou a empresa a convocar uma nova eleição de conselheiros. Antes da eleição, Estima negociou a entrada da Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), maior fabricante de munição do país, no capital da empresa: vendeu parte de suas ações à CBC, que comprou outras no mercado até ficar com 15% de participação. Assim, Estima, CBC e outros acionistas passaram a ter maioria no conselho. De acordo com investidores, o objetivo da nova oferta de ações é permitir que a CBC compre mais papéis e que as duas empresas caminhem para uma associação (a CBC não deu entrevista).
Numa reunião de conselho em 27 de junho, Estima conseguiu outra vitória: não ser questionado sobre a venda da subsidiária de máquinas e ferramentas da Taurus, feita em 2012. Uma consultoria contratada pelo conselho anterior apontou irregularidades na venda da subsidiária para a metalúrgica SüdMetal, do empresário Renato Conill, que foi lobista da Taurus junto ao governo na votação do estatuto do desarmamento, em 2003. O atual conselho decidiu que o parecer precisa ser analisado por uma nova empresa. “Essa disputa está tirando o foco do que importa, que é investir para melhorar a qualidade”. diz André Gordon, sócio da gestora GTI, que investe na Taurus.
Em tese, a sociedade entre Taurus e CBC, que tem o monopólio da fabricação de munição no país, é ótima para as empresas. Juntas, elas têm mais força para competir com companhias estrangeiras, como a austríaca Glock e a checa CZ, que planejam instalar fábricas aqui (a lei brasileira passou a permitir isso em 2012). Ainda assim, os minoritários estão torcendo contra: esperam que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica vete a união, porque assim voltaríam a ter ingerência na gestão da Taurus. Os investidores fizeram duas reclamações na Comissão de Valores lVIobiliários (CVM), que, até o fechamento desta reportagem, não havia aberto processo para investigar o caso. A Taurus afirmou, por e-mail, que o problema das armas com defeito já foi resolvido. Já a PM de São Paulo disse, também por e-mail, que “há relatos, relatórios e laudos de armas que, após a correção efetuada, ainda apresentaram problemas de disparos acidentais”. É um problemão – mas apenas um dos que a Taurus precisa resolver.
FONTE: Exame
Como está a avaliação da “nova” pistola PT 24/7 G2? A avaliação em um vídeo no Youtube garante que ela está bem melhor que as anteriores, que os defeitos foram corrigidos. A fabricação, porém foi nos EUA.
A Taurus não possui engenheiros capacitados para projetar pistolas semi-automáticas, A taurus fabricava armas beretta , repetiam o que os italianos deixaram no contratos e fabricação de pistolas mod 92 para o EB, de la pra ca a taurus se aventurosa modificar tais pistolas ( mod 57, 58 etc…) Com a criação da fabrica Taurus nos USA, passou a copiar outras armas e ai se aventurou a projetar pistolas em polímero no frame, Dai as porcarias atuais cheias de problemas, ja as sub metralhadoras tb são armas copiadas, são fuzis SIG adaptados para o calibre .40, fuzis originalmente .223 com recuo a gás, modificados para dispararem munição de pistola, e atualmente a taurus se aventura a criar armas sem conhecimento suficiente, o resultado e esse que estamos vendo. Ate mesmo os revolveres Taurus eram copias do modelo S&W, so houve uma pequena melhora no mecanismo a partir de 1983, A Imbel e a mesma coisa, ex fabrica da colt 1911 A1, FAL belga, mauser alemão ,etc…Nao se formam engenheiros projetistas especialistas em armas no Brasil, o IME forma oficiais e não engenheiros capazes. Qualquer pessoa que goste de armas que queira direcional sua carreira profissional para esse fim e discriminada , paciência…rs.
Todos do meio sabem que as pistolas da Taurus não eram muito bem aceitas por vários problemas , agora não entendo pq não se comprou as pistolas da Imbel que eu sei por prática e muitos dos estudiosos sabem são bem superiores as da Taurus , alguem sabe me explicar essa compra da Pm Paulista.
O problema aí foi que ao longo dos anos a empresa não aplicou uma parte dos lucros em modernização da linha de produção e em qualidade dos produtos, junte-se a isso a proibição de comerciais e a queda nas exportações resultando em queda de receita e ainda por cima com uma diretoria divergente de opiniões e os defeitos de fabricação logo nas pistolas das polícias, será difícil sair dessa, tomara que a parceria com a CBC dê certo.
Você está falando bobagem.
O setor industrial no Brasil está em crise e não é de hoje. Com leis trabalhistas antiquadas, impostos excessivos e mão de obra cara e pouco qualificada, a produção industrial no Brasil está estagnada a mais de uma década. Muitos setores da industria tem visto sua produção decair em mais de 50% em uma década!
Fazer uma industria no Brasil dar lucro, não é fácil, principalmente no setor de defesa.
Não entendi, por que bobagem se todos os pontos que citei como motivos pela crise da Taurus estão no texto, ou você não leu?
some-se a isso uma classe empresarial totalmente atrasada e que visa apenas o lucro rápido e fácil. pronto! temos uma imagem da realidade industrial do Brasil!
Isso é que dá escolher arma nacional, em detrimento das melhores do mundo. Se a Taurus fizesse a melhor pistola do mundo, tudo bem, se ela tivesse ganho a licitação por mérito, mas compram essas porcarias só por que é nacional, pessoas morrem, quem vai pagar por isso????? Como sempre são licitações fajutas, rola grana preta, militares e políticos se locupletam, e fica tudo na mesma, o povo paga a conta.