Aliança decide fortalecer segurança de parceiros vulneráveis a avanço da ofensiva separatista na ucrânia
Crescente desde o início da crise na Ucrânia, o desafio de se alcançar uma solução política para o impasse ganhou dificuldade extra com o acirramento da tensão no Leste do país nos últimos dias. Ontem, um novo confronto entre forças ucranianas e separatistas pró-Rússia terminou em fracasso para Kiev, com a rendição de vários soldados aos milicianos, que tomaram tanques blindados. Com o governo interino encurralado, a Otan anunciou que vai reforçar sua presença militar em aliados do Leste Europeu, em reação “à agressão da Rússia contra a Ucrânia”.
O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, afirmou que aviões da aliança vão realizar mais voos sobre a região do Mar Báltico, e barcos de guerra também serão deslocados no Báltico e no leste do Mediterrâneo. As primeiras manobras podem começar “em questão de dias”, afirmou.
– Teremos mais aviões no ar, mais barcos na água e mais preparação em terra – disse Rasmussen a jornalistas em Bruxelas, sem entrar em detalhes. – Moscou deve esclarecer que não respalda as ações de violência de milícias armadas ou de separatistas pró-russos no Leste da Ucrânia.
Segundo Rasmussen, trata-se de uma ação de “dissuasão e desescalada” diante da conduta da Rússia. O chefe da aliança não mencionou deslocamentos no Mar Negro, o que Moscou provavelmente consideraria uma agressão direta. Mas insistiu que os exercícios podem ser ampliados se necessário.
A Otan calcula que a Rússia tenha cerca de 40 mil soldados junto à fronteira Leste da Ucrânia, e que poderia invadir o país se desejasse. Rasmussen pediu a Moscou que retire as tropas da região. A aliança já suspendeu a maior parte da cooperação e conversas com o Kremlin. Já os EUA enviaram caças de combate à Polônia e países do Báltico, e realizam voos diários de vigilância com aviões AWAC sobre a Polônia e a Romênia.
É nesse clima que representantes de EUA, União Europeia, Ucrânia e Rússia se reunirão hoje num aguardado encontro em Genebra para discutir possíveis saídas à crise. Na prática, se debruçarão sobre um cenário ainda mais complexo do que já era no mês passado, quando a Península da Crimeia, sob grande influência de Moscou, acabou anexada pela Rússia.
Um dia depois de o governo interino ucraniano iniciar uma ofensiva contra os separatistas, Kiev deparou-se com uma reação de peso. Na última semana, milicianos ocuparam prédios públicos em ao menos 11 cidades. E foram mais longe ontem: capturaram veículos militares das forças ucranianas e hastearam bandeiras russas, colocando em ridículo a chamada operação antiterrorista realizada pelo governo interino na véspera para recuperar o controle de cidades do Leste do país.
Seis veículos de transporte do Exército ucraniano foram levados a Slaviansk. Ali, na cidade símbolo do avanço das forças separatistas, foram recebidos com gritos de “Rússia, Rússia!”. Outros 15 veículos com soldados ucranianos foram cercados e detidos por pró-russos perto de Kramatorsk. Em Donetsk, a prefeitura foi tomada por milicianos armados.
O governo ucraniano confirmou que veículos militares estavam agora nas mãos dos separatistas e acusou agentes russos de coordenarem as ofensivas.
– Queremos que a Rússia não apoie as atividades terroristas no Leste da Ucrânia. A Rússia deve confirmar que a Crimeia é parte integrante da Ucrânia e retirar suas tropas – pediu o chanceler ucraniano, Andrii Dechtchitsa.
Os serviços de segurança ucranianos (SBU) afirmaram que comandantes separatistas receberam ordens do Kremlin de “disparar para matar”. Moscou nega ingerência na crise e afirma que os veículos militares não foram capturados por separatistas, mas entregues a eles “por desertores ucranianos” no Leste.
O presidente russo, Vladimir Putin, advertiu a chanceler federal alemã, Angela Merkel, que a Ucrânia está “à beira de uma guerra civil”, após o envio das tropas ucranianas para combater os ativistas pró-Rússia. Ambos conversaram por telefone e, segundo o Kremlin, “assinalaram a importância” das discussões previstas para hoje.
Putin e Merkel também “manifestaram sua esperança de que o encontro em Genebra possa dar um sinal claro para reverter a situação de forma pacífica”. Na véspera, o premier russo, Dmitri Medvedv, alertara para a iminência de uma guerra civil no Leste da Ucrânia.
FONTE: O Globo