Ocidente precisa decidir se prefere pagar o preço de uma intervenção militar agora ou perder muito mais ao deixar essa escolha para o futuro
No início de março, depois de encenar um referendo defendido por Kalashnikovs na Crimeia, a Federação Russa seguiu com a anexação da região, estabelecendo os alicerces para“ novas realidades políticas e legais” – de acordo com Moscou, um novo paradigma russo para um mundo sem lei. Como disse a chanceler alemã, Angela Merkel, no dia 13, a Rússia está trazendo à mesa a lei da selva. Para aqueles que acompanha mas tentativas de Vladimir Putin de reverter o resultado daquilo que ele chama de “maior catástrofe geopolítica” do século 20 – a dissolução da União Soviética –, os acontecimentos na Ucrânia não chegam a ser inesperados. E esse ainda não é o último ato da peça.
A história pode ser uma útil professora para os políticos: primeiro, para ajudar a prevenir novos desastres e, em segundo lugar, para ajudá-los a reagir aos desastres que ocorrem inevitavelmente. Muitos políticos estão repetindo erros que já deveriam conhecer há décadas.
Na Chechênia, milhares de pessoas morreram apenas para fazer de Putin o presidente e consolidar seu poder.
Quando as revoluções coloridas – e suas reformas bem sucedidas – tornaram-se uma ameaça ao seu governo, ele invadiu a Geórgia para matar aquele modelo contagioso e reafirmar seu poder.
Agora, como antes, enfrentando a erosão de sua popularidade na Rússia, uma revolução do gás de xisto na América do Norte e a necessidade de acesso consistente aos portos para manter abastecidos seus aliados no Oriente Médio, Putin atacou a Ucrânia e tomou a Crimeia.
Mesmo com essa miríade de exemplos, o Ocidente continua a desculpar ou interpretar equivocadamente a agressão de Putin. Muitos especialistas estão ocupados em busca do sentido da vida e um dos refrões mais repetidos diz que o Ocidente foi longe demais na expansão da Otan e da União Europeia, provocando sem necessidade o lobo russo.
A conclusão desse raciocínio diz que, por mais petulante que seja o comportamento russo, parte da sua motivação estaria no ativismo ocidental. Trata-se de um tipo particular de auto flagelação intelectual e, para Putin,um reflexo da fraqueza que só serve para estimulá-lo.
Ao defender que as grandes potências europeias aceitassem a ocupação dos Sudetos por Adolf Hitler, Neville Chamberlain disse que os europeus não deveriam se incomodar com“ uma disputa num país distante, entre pessoas a respeito das quais nada sabemos”. Vejo muitos especialistas falando agora em “assimetria de interesses”, dizendo que a Rússia teria o direito de anexar terras de países vizinhos simplesmente porque ela se importa mais com essas terras do que o Ocidente. Outros opinam que devemos nos acostumar com a ideia da Crimeia perdida, que jamais será devolvida pela Rússia. Foi exatamente o que me disseram em 2008– que eu deveria me resignar à ideia de que a parte do território georgiano, então ocupada pela Rússia, tinha sido perdida para sempre.
Como aprendemos com a história, os ciclos de apaziguamento costumam se tornar mais curtos com progressão geométrica. Em breve, os mesmos especialistas podem declarar – com sua expressão mais indiferente – que agora a Moldávia, a Letônia ou mesmo alguma província da Polônia foi “perdida”. Simplesmente porque a Rússia não quer devolver tais territórios.
Para o Ocidente, a principal baixa não será entre os países que já são ou desejam ser seus aliados. Serão os princípios sobre os quais o mundo ocidental se ergue. A verdade é que Geórgia, Ucrânia e Moldávia estão sendo castigadas pela Rússia por desejarem viver numa sociedade livre e democrática – muito diferente do modelo de Putin.
É certo que Moscou não se importava muito com as populações russas minoritárias em seus países vizinhos – desde que essas fossem confortavelmente governadas por capangas corruptos do Kremlin. Mas, na última década, Geórgia, Ucrânia e Moldávia aprenderam a olhar para o Ocidente, nem tanto por suas prioridades geopolíticas, mas porque seus habitantes aspiram a um estilo de vida ocidental que respeita os direitos humanos e os valores universais. É por essa razão que o Ocidente deve proteger esses países, não apenas em decorrência de cálculos pragmáticos.
A Rússia confronta a lei e a ordem internacionais com seu maior desafio desde a invasão do Afeganistão em 1979. E ainda que o Ocidente tenha hoje uma superioridade– tanto econômica quanto militar – em relação à Rússia, muito maior do que jamais teve diante da URSS, os líderes atuais se mostram relutantes em se aproveitar dessa assimetria.
Talvez o problema decorra da ambivalência da maioria dos especialistas regionais que orientam o pensamento dos líderes ocidentais. Seu equívoco na leitura das intenções russas tem como base o fato de não compreenderem a diferença entre a “nomenklatura” soviética e a elite corrupta da Rússia moderna. Eles subestimam muito o quanto essa elite é apegada a suas mansões e contas bancárias no Ocidente.
Da mesma maneira, os principais responsáveis pelas decisões em Moscou são muito mais dependentes psicológica e financeiramente do Ocidente do que os burocratas da era de Brejnev. As sanções podem separar com sucesso esse grupo do círculo mais próximo de Putin, mas elas precisam ser aprofundadas.
Apesar da retórica do presidente americano, Barack Obama, o Ocidente e a Europa, em especial, parecem relutantes em impor sanções mais rigorosas. Diferentemente da época da Guerra Fria, as empresas ocidentais hoje lucram muito com a Rússia e, por isso,também terão de pagar o preço das sanções. Após o anúncio da primeira rodada de restrições, as ações logo recuperaram seu preço quando os mercados ficaram aliviados ao ver que as medidas não traziam consequências muito graves. Como o Ocidente espera ser levado a sério por Putin se nem mesmo Wall Street acredita na seriedade das intenções da aliança ocidental?
O dilema é simples: será que o Ocidente está disposto a pagar esse preço agora ou atrasar a decisão e pagar um preço muito mais alto no futuro? Essa escolha pode ser descrita em termos médicos. O câncer da agressão russa surgiu pela primeira vez na Geórgia. O Ocidente decidiu ignorar o diagnóstico, preferindo tratar a doença com aspirinas. A Crimeia é a metástase daquilo que ocorreu na Geórgia, mas o Ocidente continua a excluir a opção cirúrgica–ou seja, a intervenção militar–dizendo que essa é arriscada demais.
No entanto, no mínimo, seria melhor começar com a quimioterapia. Sim, isso significa que o Ocidente sentiria os efeitos do próprio remédio, principalmente as empresas europeias no curto prazo. Mas,no longo prazo, essa dose dolorosa é a única maneira de ajudar a eliminar o câncer chamado Putin.
A respeito dos apaziguadores de Hitler, Winston Churchill disse, certa vez, profeticamente: “Puderam escolher entre guerra e desonra. Optaram pela desonra e terão a guerra”. É claro que não podemos esperar de políticos modernos, obcecados com pesquisas e eleições legislativas, que sejam como Churchill o tempo todo. Mas, no mínimo, eles não deveriam ansiar por entrar para a história como Chamberlain. E, no coração do apaziguamento, há um equívoco em relação ao homem que Putin é – e sempre foi.
FONTE: Estado de São Paulo
Por:*Mikhail Saakashvili – Tradução de Augusto Calil
*Foi presidente da Georgia de 2004 a 2013. É professor na Fletcher School of Law and Diplomacy na Tufts University
Isso aí é papo de derrotados!! Dou como exemplo los hermanos em relação as Malvinas. No caso ukraíno quem realmente ganhou algo foram os crimeanos que conseguiram fazer a sua vontade que é abandonar a falida Ukrania. O tempo vai apaziguar essas tretas na Ukrania e os que se sentirem derrotados vão ficar reclamando como esse cara, que inclusive destruiu o país dele mesmo!
Quando o ocidente não consegue vencer usando as armas, ele usa a imprensa!
A Ucrânia é um parceiro estratégico da Rússia,este golpe de estado prejudicou em muito a economia do país,tanto na área civil como militar,é tudo uma questão de tempo deles invadir a Ucrânia e anexa-la.
Quando os russos se retiraram a Alemanha Oriental, ficava claro que a União Soviética desapareceria. O pavor dos EUA era o surgimento de várias potências nucleares, pois o arsenal soviético estava distribuido entre vários países do leste europeu. Para solucionar este problema, os EUA e a OTAN , propuseram à Rússia repatriar as armas nucleares, e em troca os EUA/ OTAN , não expandiriam suas fronteiras militares em direção à Rússia. Passado alguns anos, a OTAN foi incentivando países do leste europeu, a fazerem parte da aliança militar ocidental, chegando quase nas fronteiras da Rússia. Percebendo o perigo, a Rússia simplesmente reagiu. Dificilmente, haverá solução pacífica para este problema.
Essa explicação ajuda a entender essa iniciativa da Rússia, faz sentido. Isso mostra que os russos foram ingênuos em acreditar na proposta da OTAN, assim como Chamberlain fez com Hitler no acordo de Munique. Se a OTAN expandir sua influência nos países que fazem fronteira com a Rússia seria cheque mate a favor do ocidente.
Hitler também usou essa estratégia ao invadir a Polônia até ficar cara a cara com a Rússia, mas se deu mau nessa empreitada por que o frio e condições adversas da Rússia não ajudaram os alemães.
A Ucrãnia vai se aliar a OTAN isso é fato o problema são as massas a população vai apoiar a russia e a russia vai fazer o seu jogo do se os EUA podem porque não podemos.
sim, tambem concordo, e quem vai dizer o contrário aos russos? duvido que apareça ! se eles baterem o pé que a criméia é deles americano e europeu nenhum vai arriscar ter suas cidades carbonizadas por causa da Ucrania, que se analizar-mos bem, a Ucrania tem mais é que se juntar com a Russia mesmo.
Os Russo estão em defesa de seus interesses e vão continuar a avançar sobre as ex-repúblicas soviéticas. Parte oriental da Ucrânia é a bola da vez. Acho engraçado a crítica pesada em relação aos Russos quando massacraram a tchetchênia, Geórgia e a Criméia. Os EUA arrumaram um pretexto inexistente para destruir e transformar o Iraque no Barril de pólvora que é hoje, Atacaram e invadiram o Afeganistão. Jogaram bombas na Líbia. Faltou um pouco de imparcialidade. Detalhe que esqueceu: Uma intervenção da OTAN na Ucrânia e bater de frente contra um país que tem armas nucleares – a história seria diferente.
correto!
invadir países, matar civis, destruir toda a infra-estrutura, eliminar a oposição, enriquecer políticos americanos, reforçar orçamentos de defesa europeus, etc, para implantar a “democracia ocidental” pode!
agora, quando os interesses são “do lado do mal”, ai não pode!!!
O texto do ex-presidente georgiano, homem respeitável e decerto conhecedor dos problemas daquela região, pareceu-me muito exagerado, belicista e maniqueísta até. É sabido que no concerto das nações não há santos, que o que se defendem são interesses; entretanto, o revanchismo, que salta aos olhos do texto, nunca deve nortear os rumos das relações internacionais.
Pintar um lado como o mal absoluto e o outro como o virtuoso é de um simplismo atroz (provavelmente o sistema de um é melhor do que o do outro, mas o seu funcionamento depende do amadurecimento do povo e do caldo de cultura local. Imposições e rupturas de regimes excentricamente implantadas apenas deixam enorme saldo duradouro de sangue e de mortes). Simplesmente te pregar a guerra, ainda mais entre atores nucleares, põe em risco a existência da humanidade, coisa de uma irresponsabilidade sem igual.
concordo plenamente!!!! texto cheio rancor, revanchismo e ódio…
interessante imaginar um cenário onde o ocidente e a Rússia iriam se degladiar. qualquer um dos lados que começasse a “perder” poderia acionar seu arsenal atômico ai, fim de jogo!
será que lugares como Georgia e Criméia valeriam esse “desgaste”…?