Os fornecedores da cadeia aeronáutica brasileira vendem hoje somente serviços de industrialização de terceiro nível, categoria que inclui componentes de subsistemas, como circuitos impressos, bombas hidráulicas, motores, rotores, chapas de alumínio, materiais compostos e projetos de peças.
Segundo o presidente da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), Walter Bartels, a Inbrafiltro e a Eleb, do grupo Embraer, que fornecem respectivamente a porta da cabine reforçada e do trem de pouso de aeronaves, são um dos poucos exemplos de empresas brasileiras que integram o restrito grupo de fornecedores de primeiro nível, responsáveis pelo projeto e integração de sistemas de propulsão, sistemas aviônicos e da fuselagem dos aviões.
A escolha recente do caça sueco Gripen para o projeto FX-2, na sua opinião, beneficiará o município de São Bernardo do Campo (SP) com uma nova empresa de nível um, ao fornecer peças e conjuntos com projeto brasileiro, encabeçado pela Inbrafiltro e Akaer.
Outro exemplo de cooperação industrial e de compensação tecnológica (offset) na área de defesa que está gerando bons resultados para a cadeia produtiva aeroespacial, segundo Bartels, é o programa de desenvolvimento dos helicópteros EC725, da Helibras, controlada pelo grupo Airbus.
Segundo a Helibras, 36 empresas brasileiras participam do programa de produção dos helicópteros, das quais 14 são beneficiárias de acordos de transferência de tecnologia.
Bartels disse acreditar que as ações do Programa Brasil Maior para a cadeia aeroespacial deverão introduzir várias outras empresas brasileiras neste grupo de fornecedores de nível um e dois, com atuação não só no mercado doméstico, mas também para a exportação.
“A atual política industrial do PBM inclui a ação de aumentar a adensamento produtivo e tecnológico das cadeias de valor, mas a AIAB incluiu na agenda aeronáutica o adensamento vertical da sua cadeia, pois somente com o aumento do nível de qualidade da atividade industrial é que conseguiremos atingir o mercado externo”, afirmou.
Já as pequenas e médias empresas não possuem certificações, experiência gerencial e escala necessárias para trabalhar com fornecedores globais. Por outro lado, a redução de impostos de importação garantida pelo Recof (Regime Aduaneiro de Entreposto Industrial sob Controle Informatizado), que beneficia a Embraer, tem o efeito negativo de reduzir os incentivos à localização de conteúdo no Brasil, afirma o Estudo da CNI.
Para o presidente da Akaer, empresa de serviços de engenharia aeronáutica, Cesar Augusto da Silva, não adianta ter um monte de empresas que fazem produtos de baixo valor agregado, pois esta não é a vocação do Brasil. “Temos que criar capacidade de desenvolvimento e engenharia para agregar valor aos nossos produtos, pois não somos um país de custo baixo.”
O estudo das cadeias de valor do setor aeroespacial feito pela CNI revela que diversos fornecedores de primeiro nível tiveram receitas mais altas que as montadoras de jatos regionais, como a Embraer e a Bombardier em 2010.
“Isso se deve ao falto de empresas de primeiro nível serem fornecedoras de várias montadoras finais, inclusive para o mercado de defesa, além de terem controle sobre os mercado de serviços de manutenção, reparo e revisão e dos componentes usados nesses serviços”, afirmou Silva.
FONTE: Valor Econômico
A empresa não rebe financiamento porque não tem certificação. Não tem certificação porque não tem encomendas porque não está à altura, já que não tem financiamento. Será que não é visível este ciclo perverso? Será que os tecnocratas não vêem que este ciclo só se rompe com a intervenção do Estado?