Agência Nacional de Segurança praticou a espionagem em todos os países da América Latina. O jornalista Glenn Greenwald fez esta declaração por telefone aos participantes da Sexagésima Nona Assembleia da Associação Interamericana de Imprensa, que se realiza em Denver, estado de Colorado.
Glenn Greewald, antigo colaborador do jornal The Guardian, que publicou os materiais do antigo funcionário da Agência de Segurança Nacional dos EUA, Edward Snowden, prepara agora novos desmascaramentos dos serviços secretos americanos. “Posso prometer com certeza absoluta que haverá mais notícias, de importância idêntica às que já foram publicadas”, – declarou o jornalista. Ao responder à pergunta se dispunha de mais “bombas informativas” sobre a espionagem na América Latina, Greenwald respondeu que “ainda existe muito daquilo que será divulgado, incluindo dados sobre a Argentina, Venezuela… sobre todos os países do continente”. “A Agência de Segurança Nacional realiza muitas operações de espionagem na América Latina, especialmente na esfera de atividade econômica dos países da região e dos seus governos”, – acrescentou o jornalista.
Segunda-feira eclodiu o escândalo por causa da intercepção em massa de conversas telefônicas de cidadãos franceses pela Agência de Segurança Nacional. Ao comentar este evento, Greenwald especificou que o jornal Le Monde dispõe desta informação desde há muito. “A decisão sobre o tempo e a forma de publicação foi tomada exclusivamente pelo próprio jornal”, – disse o jornalista ao responder à pergunta sobre a coincidência do tempo da publicação do artigo e da visita do secretário de Estado norte-americano John Kerry a Paris.
Na segunda-feira, o Le Monde publicou vários materiais, fornecidos por Edward Snowden. De acordo com estes dados, no período de 10 de dezembro de 2012 a 8 de janeiro de 2013 a Agência de Segurança Nacional interceptou 70,3 milhões de conversas telefônicas e de cartas eletrônicas de cidadãos franceses.
O ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, chamou o embaixador americano em Paris e exigiu explicações.
Ao intervir em Paris perante jornalistas, John Kerry declarou que estas ações foram uma parte de uma operação destinada a garantir a segurança dos cidadãos americanos. O secretário de Estado acrescentou que os EUA irão realizar uma série de consultas com a França a fim de preservar o equilíbrio entre os legítimos interesses dos EUA na esfera de segurança e os receios dos aliados a respeito da violação da inviolabilidade da vida privada.
O ministro do Interior da França, Manuel Valls, qualificou as ações da Agência de Segurança Nacional de “chocantes”.
Na declaração do Palácio do Eliseu, em que se faz balanço da conversa telefônica entre François Hollande e o presidente dos EUA Barack Obama, diz-se que o presidente condenou com veemência esta atividade, que é inadmissível nas relações entre amigos e aliados. “O presidente exigiu que a parte americana apresente esclarecimentos e informe, quais as informações que podem ainda estar à disposição do antigo colaborador da CIA Edward Snowden”. A França pretende que o problema da espionagem eletrônica americana contra os países europeus seja discutido na cúpula da União Europeia, a realizar nos dias 24 e 25 de outubro. A respetiva declaração foi feita pelo ministro das Relações Exteriores da república, Laurent Fabius.
Há duas semanas que uma comissão parlamentar especial brasileira está a estudar a questão, pretendendo esta encontrar-se com Edward Snowden e obter dele informações sobre a envergadura da espionagem eletrônica. Eis o que diz o senador Ricardo Ferraço, um dos membros desta comissão.
“Nós temos dois objetos nessa comissão de investigação. Nós precisamos de um modo objetivo e concreto tentar alcançar o cerne dessas denúncias, a denúncia de que esta espionagem não teve como foco o combate ao terrorismo mas sim o interesse econômico em torno de informações estratégicas de empresas brasileiras, informações estratégicas do governo brasileiro, como questões ligadas ao leilão do Pré-Sal do Campo de Libra, informações estratégicas da Petrobras, eventuais disputas e conflitos entre empresas brasileiras como no caso da Embraer e da Bombagi. São vários os exemplos, a concorrência pelo fornecimento da Força Aérea Brasileira… Enfim, nós precisamos de informações seguras e concretas. Até aqui, o correspondente do The Guardian, o jornalista Glenn, teve um papel importantíssimo que foi desmontar esse esquema que viola o sigilo das pessoas, que viola o sigilo do país, viola o sigilo da própria Presidência da República. Outro sentido da nossa comissão de investigação é, de fato, fazer um outro diagnóstico sobre as fragilidades do nosso sistema de proteção cibernética, considerando que essa é uma realidade e que nós precisamos ampliar os investimentos”.
No seu Twitter, Glenn Greenwald fez saber que, proximamente, iria publicar a informação sobre a espionagem dos serviços secretos americanos também contra a Espanha.
Neste mesmo Twitter, na página do antigo presidente do México Felipe Calderón foi colocada a sua mensagem ao ministro das Relações Exteriores do México em que o presidente solicita que o governo do país declare um protesto aos EUA por motivo da espionagem praticada contra Calderon durante o seu mandato. As respetivas informações foram publicadas pela revista alemã Der Spiegel e pelo canal de televisão brasileiro O Globo. Destes documentos decorre que os serviços secretos dos EUA interceptavam toda a correspondência da administração de Calderón e espionavam também Enrique Peña Nieto durante a sua campanha eleitoral.
Que dizem a isto os EUA? O Departamento de Estado vem sempre com a mesma resposta. “Cada situação diplomática é especial e nós realizamos conversações a respeito de cada caso concreto”, – declarou a chefe do serviço de imprensa do Departamento de Estado, Marie Harf.
FONTE: VR