Por Ricardo Bonalume Neto
Principal empresa nacional no ramo nega aumento nas vendas após protestos no país.
Protestos e manifestações de rua em todo o mundo nos últimos meses, como as que o Brasil continua vivenciando, alavancaram a indústria de armas “não-letais” como gás lacrimogênio e balas de borracha. O mercado de segurança pública está crescendo. Um bom indicador é o número de empresas que participam de feiras na área, como a mais importante delas, a Milipol, que deverá acontecer em Paris em novembro. Na Milipol 2011 participaram 887 empresas, de 47 países. Para a edição 2013 já estão inscritas mais de mil
No Oriente Médio, em suas “primaveras” o mercado de segurança aumentou em média em 18% (algo como R$ 17 bilhões em 2012), segundo institutos de pesquisa.
Entre as empresas na próxima Milipol estará uma brasileira que está rapidamente se tornando uma líder mundial do mercado, a Condor. O crescimento de vendas da empresa atraiu a atenção de uma pesquisadora especializada na área de “controle de distúrbios” e armas “menos-letais” (expressão que ela prefere), Anna Feigenbaum, da Universidade Bournemouth, Reino Unido.
“Em anos recentes a Condor teve um aumento de 33% nas receitas através de uma nova estratégia de marketing utilizando ferramentas de comunicação e participação em feiras de negócios. Com essas iniciativas a diretoria de marketing indicou um aumento médio de vendas de 90% e aumentou as vendas de 12 para 38 países, com novos mercados na Ásia e África”, disse Feigenbaum à Folha.
É possível dizer se as manifestações no Brasil e no exterior já geraram novas encomendas de governos ou reduziram os estoques da Condor?
Segundo o diretor de marketing da Condor, Massilon Miranda, “os clientes de tecnologias não letais, polícias e forças armadas, principalmente, mantêm estoques regulares deste material e fazem as programações de aquisição com antecedência, fundamentadas por estudos de demanda para que, em caso de necessidade, eles estejam disponíveis, ao invés de depender de eventuais estoques do fornecedor”.
De acordo com Miranda, “a Condor não teve aumento significativo de vendas até o momento, motivo pelo qual não precisou reforçar a produção.No entanto, a empresa tem condições de aumentar sua capacidade produtiva conforme a demanda, desde que devidamente planejada”.
A pesquisadora é extremamente crítica do uso desse tipo de armamento contra manifestantes. Até que ponto seria correto usar gás lacrimogênio contra manifestantes?
“Antes desta questão ser debatida, é crucial ter mais informação. Como podemos julgar a força de uma arma sobre a qual o público sabe tão pouco? Estudos em importantes revistas científicas concluem que mais pesquisa deve ser feita sobre os efeitos na saúde do gás lacrimogênio”, diz Feigenbaum.
“Em segundo lugar, para responder a essa questão nós precisamos pensar em que tipo de mundo nós queremos viver. Gás lacrimogênio está sendo usado contra a reunião pública de manifestantes para reprimir direitos democráticos de expressão”, afirma.