Alpha Delphini, primeiro navio oceanográfico construído no Brasil, sairá este mês do Porto do Recife para coletar amostras de água na costa pernambucana
Com nome de estrela e a missão de desvendar os efeitos do aquecimento global na região costeira, o primeiro navio oceanográfico construído no Brasil fará sua primeira viagem este mês, partindo do Porto do Recife. O Alpha Delphini, vinculado à Universidade de São Paulo (USP), custou R$ 5,5 milhões e está em fase de conclusão no estaleiro Inace, no Ceará.
Da capital pernambucana, uma equipe de pesquisadores partirá rumo ao Litoral Norte. Por cinco dias, a embarcação de 25 metros levará diariamente, no início da manhã, os estudiosos do clima até a Ilha de Itamaracá. À tardinha, o grupo retornará com amostras de água para medições em laboratório, anotações de bordo e, sobretudo, dados coletados pelos equipamentos instalados no Alpha Delphini.
A primeira jornada do navio é um dos frutos de convênio de cooperação celebrado há três anos entre as Fundações de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe) e de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
No Inace, a embarcação está recebendo os últimos equipamentos que permitirão a navegação pela plataforma continental, faixa de mar que se estende da praia até 200 metros de profundidade. A Fapesp esclarece que o Alpha Delphini é um navio de médio porte.
Esse é o segundo navio oceanográfico da instituição, que tem o maior orçamento entre as fundações estaduais de apoio à pesquisa do Brasil. O primeiro, o Alpha Crucis, inaugurado em maio de 2012, já fez até agora sete cruzeiros, incluindo de testes e para fins de pesquisa.
Acidificação
Um dos efeitos do aquecimento global, resultante do aumento da emissão de gases do efeito estufa, é a acidificação dos oceanos. Os pesquisadores ainda não dispõem de dados suficientes para confirmar se o fenômeno, agravado pela poluição, é registrado também ao largo da costa de Pernambuco. “As nossas coletas têm pouco tempo de representatividade. Essa será uma resposta de médio a longo prazo”, diz Manuel Flores, professor do Departamento de Oceanografia da UFPE.
Segundo ele, é necessário obter as médias anuais de uma série temporal, desconsiderando mudanças sazonais e a influência de eventos extremos ou ocasionais. A equipe da UFPE, no entanto, dispõe de indícios de que a poluição dos rios metropolitanos exerce uma forte pressão na qualidade das águas costeiras.
Um dos principais componentes dessa carga orgânica é o carbono, cujo processo de mineralização resulta em CO2. “Parte da nossa pesquisa quer quantificar até onde essa matéria exerce algum efeito, e se a circulação das águas marinhas em nosso litoral ainda consegue reduzir esse impacto”, esclarece o professor.
“Também faremos medições de carbono inorgânico dissolvido e CO2 para acompanhar as mudanças no equilíbrio do sistema, e, assim, verificar se o processo de acidificação já é um fato ou uma forte possibilidade”, adianta. Para ele, a acidificação do mar seria um desastre para o litoral de Pernambuco. Manuel Flores destaca os efeitos nos recifes de coral, que teriam sua saúde ainda mais prejudicada.
Região de bifurcação da corrente marinha que vem da África e que se divide – com uma parte da massa d’água seguindo em direção à região Norte e outra para a região Sul do Brasil – a zona oceânica de Pernambuco sempre foi pouco compreendida, de acordo com Elisabete de Santis Braga, professora do IO-USP e coordenadora do projeto.
“A possibilidade de irmos com o barco até Fernando de Noronha permitirá obter informações oceânicas daquela região, que atua como um pequeno sorvedor de carbono, com águas pobres em nutrientes”, informa Elisabete Braga, em matéria da Agência de Notícias Fapesp.
FONTE: Jornal do Commercio-PE