O centro de pesquisa em São Paulo expande a atuação da fabricante de aviões no País.
O ano de 2013 consolida uma nova rota de expansão da Boeing no Brasil. Além de vender suas aeronaves, a maior fabricante de aviões e equipamentos aeroespaciais do planeta, com interesses crescentes em defesa e segurança, abrirá nos próximos meses seu primeiro laboratório de pesquisas no Brasil, em São José dos Campos (SP), o principal polo de estudos aplicados na área do País.
Com 174 mil funcionários e lucro global de 1,1 bilhão de dólares no primeiro trimestre, a companhia abrirá seu sexto centro de pesquisas pelo mundo, o que reafirma o interesse pelo mercado brasileiro. Desde o ano passado, a companhia tem selado parcerias com universidades e empresas para pesquisas conjuntas, que agora se concentrarão no novo bureau. A instalação do centro de pesquisas trará 12 especialistas ao Brasil, onde uma equipe de 18 profissionais dedica-se hoje ao suporte técnico para a Gol e a TAM.
Uma das ideias é criar opções sustentáveis para um dos itens de maior peso na planilha de custos das companhias aéreas, o querosene de aviação. A pesquisa para a produção de um biocombustível economicamente viável, a partir da cana e do pinhão-manso, as principais linhas de estudo, será realizada em parceria com a Embraer, também de São José dos Campos, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A meta é chegar a um combustível menos poluente, que não exija alterações nos motores.
Os esforços em P&D são variados. Com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a empresa pesquisa sensores remotos para aviões não tripulados. Em parceria com o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), também ligado ao Ministério da Aeronáutica, colabora na revisão dos currículos dos cursos de engenharia aeroespacial e na capacitação de gerentes para o tráfego aéreo. Com a Universidade de São Paulo (USP), estuda a segurança aérea e, em conjunto com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), testa a aplicação de biomateriais.
Nos próximos anos, a expectativa é de que os negócios em defesa e segurança, nicho em que a Boeing perde apenas para a Lockheed Martin no ranking mundial, ganhem peso. Com a Embraer, por exemplo, a empresa fechou um acordo de cooperação para o programa KC-390, que desenvolve o maior avião militar a ser produzido no País.
As estimativas da empresa apontam o potencial de vendas de 2,5 mil aeronaves na América Latina em duas décadas, 40% no mercado nativo, ou cerca de mil aviões. Nesse período, estimam consultores, o número de passageiros no País tende a triplicar, no mesmo ritmo de crescimento da última década. Confirmada a projeção, será uma expansão vertiginosa: no Brasil há 80 anos, onde entrou em 1932 por meio da venda de caças ao governo federal, a Boeing comercializou até hoje 180 aeronaves no País.
As dificuldades financeiras das companhias aéreas brasileiras, que acumulam prejuízos com o aumento de custos, não são vistas com maior preocupação. “O mercado é dinâmico, por isso olhamos esses números como algo normal”, diz Ana Paula Ferreira, diretora de comunicação da Boeing no Brasil.
De olho no segmento militar, a Boeing aguarda a definição em relação à compra de 36 caças da Força Aérea Brasileira (FAB), que pode ocorrer ainda em 2013, após 13 anos de idas e vindas do poder público.
A maior exigência para a escolha das aeronaves na licitação das Forças Aéreas para a transferência de tecnologia, como explicitou o Planalto, não influenciou os esforços em pesquisa anunciados agora. “São coisas bem separadas. O investimento em tecnologia fica no Brasil, com ou sem a venda dos caças. Não podemos só transferir know-how, pois o mais importante é desenvolver com o Brasil”, diz a executiva.
A transferência de tecnologia possui o aval do presidente Barack Obama, mas a permissão terá de passar pela aprovação do Congresso americano.
No plano internacional, a Boeing procura reconquistar a confiança do mercado depois dos problemas técnicos com o “superavião” 787 Dreamliners, com capacidade para até 250 passageiros, a maior apos-ta da empresa nos últimos anos. As aeronaves foram impedidas de voar por três meses pelas autoridades internacionais, até a solução de uma falha que provocou incêndio em duas baterias em janeiro passado.
A retomada dos 787 pelas empresas aéreas tem sido gradual, e as entregas de novas aeronaves, projeta a companhia, serão retomadas ainda em maio.
A redução de custos, contudo, compensou a ligeira queda nas vendas, e a lucratividade avançou 20% na comparação com o primeiro trimestre de 2012.
FONTE: Carta Capital