PEQUIM – Dois bombardeiros “invisíveis” dos Estados Unidos, capazes de lançar armas nucleares, realizaram ontem seu primeiro voo sobre a Península Coreana. Em resposta, o ditador Kim Jongun ordenou que baterias de mísseis norte-coreanas ficassem em alerta para abrir fogo contra bases dos EUA na Coreia do Sul e no Oceano Pacífico.
Na quarta-feira, Pyongyang já havia cortado seu último canal de comunicação militar com o Sul, dizendo a guerra poderia começar “a qualquer momento”. A decisão de colocar em alerta suas forças veio após uma reunião de emergência convocada para analisar o sobrevoo dos bombardeios americanos.
Os B-2 saíram de uma base no Missouri e voaram até a Coreia do Sul para integrar os exercícios conjuntos que as Forças Armadas dos dois países realizam desde o início do mês, segundo informação divulgada pelo comando militar americano em Seul.
O principal objetivo da operação é enviar a Pyongyang a mensagem de que os Estados Unidos usarão seu poderio militar para proteger Seul de um eventual ataque do país vizinho.
O comunicado ressaltou que os bombardeiros B-2 são um “importante elemento” da capacidade de dissuasão dos Estados Unidos na região Ásia-Pacífico e podem realizar ataques precisos e de longo alcance. Os aviões são equipados com instrumentos que evitam sua detecção por radares, o que permite que entrem no espaço aéreo de outros países sem serem notados.
Nos exercícios de ontem, os jatos percorreram 10,5 mil quilômetros desde Missouri e lançaram artefatos sem munição em território sul-coreano.
Realizados todos os anos, os exercícios militares conjuntos dos EUA e da Coreia do Sul estão entre os maiores do gênero em todo o mundo e mobilizam cerca de 200 mil soldados por um mês.
O secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, disse que o envio dos bombardeios Stealth à Coreia do Sul fez parte de um exercício militar normal e não teve a intenção de provocar uma reação da Coreia do Norte.
Hagel disse ontem que as ações e o tom beligerante da Coreia do Norte nas últimas semanas aumentaram a tensão na região. Ele acrescentou que os EUA estão preparados para defender seus interesses e os de seus aliados.
O secretário de Defesa declarou que há vários fatores “desconhecidos” com relação à Coreia do Norte.
Ataques preventivos
O regime norte-coreano intensificou sua retórica bélica desde que as operações tiveram início e anunciou que estava abandonando o armistício que, em 1953, colocou fim à Guerra da Coreia. O confronto de três anos não terminou com um acordo de paz, o que em tese mantém os dois países e os americanos em um estado de guerra.
Pyongyang ameaçou realizar ataques nucleares preventivos contra os Estados Unidos e a Coreia do Sul e, na terça-feira, anunciou que sua artilharia estava pronta para atingir alvos no Havaí e em Guam. Mas é altamente improvável que o regime cumpra suas promessas, já que isso implicaria um suicídio político, dada a supremacia militar de seus adversários.
Citando uma autoridade não identificada do Ministério das Relações Exteriores, a agência de notícias sul-coreana Yonhap disse ontem que o governo de Seul está preocupado com a “crescente incerteza” nas relações com Pyongyang. A potência nuclear é comandada há pouco mais de um ano por Kim Jong-un, o jovem de 30 anos que representa a terceira geração da dinastia fundada por seu avô em 1948.
Apesar da agressividade verbal da Coreia do Norte, centenas de sul-coreanos entraram ontem no país para trabalhar no complexo industrial de Kaesong, que é o maior símbolo de cooperação econômica entre os dois lados da península.
FONTE: O Estado de São Paulo – Cláudia Trevisan