Por Guilherme Wiltgen
O primeiro caça Gripen E (C/N 39-6032) fabricado no Brasil avança para montagem final e tem previsão de realizar o seu primeiro voo e entrega para a Força Aérea Brasileira (FAB) em 2025.
Nessa quarta-feira (05), a Saab Brasil organizou uma Press Trip à fábrica da Embraer Defesa & Segurança, em Gavião Peixoto, para mostrar o estágio construtivo do primeiro Gripen E fabricado no Brasil. Nessa mesma planta está instalado o hub de transferência de tecnologia do Programa Gripen, que compreende o Gripen Design and Development Network (GDDN) o Gripen Flight Test Centre (GFTC) e o Gripen Production Line.
Há pouco mais de um ano, essa linha de montagem final do Gripen, que é a única existente fora da Suécia, foi inaugurada e representa para Saab e Embraer uma importante parceria estratégica, que vai permitir que as duas empresas trabalhem juntas em novas oportunidades de negócios.
Antes de iniciar a visita, Hans Sjöblom, gerente geral da Saab em Gavião Peixoto, Luis Hernandez, diretor de cooperação industrial da Saab Brasil e Walter Pinto Junior, COO da Embraer Defesa & Segurança, fizeram uma apresentação sobre o Programa Gripen.
Segundo Hans Sjöblom, “Esta é uma conquista significativa tanto para a Saab quanto para a Embraer, uma vez que o primeiro caça Gripen produzido no Brasil chega à fase final de montagem. Como parte de um extenso programa de transferência de tecnologia, esta é a primeira linha de produção do Gripen estabelecida fora da Suécia e estamos realmente impressionados com a excelência demonstrada pelos funcionários da Embraer”.
A primeira aeronave Gripen passou pela montagem estrutural, fase na qual as quatro principais aeroestruturas (fuselagem dianteira, a unidade de armamento, a fuselagem central das asas e a fuselagem traseira) são unidas dando forma ao caça.
Durante a visita ao Gripen Production Line, foi possível acompanhar parte dos processos de produção. Nessa oportunidade, foi possível ver o primeiro caça (C/N 39-6032) na estação 3, o segundo (C/N 39-6042) na estação 2 e o terceiro (C/N 39-6056) sendo preparado para em julho entrar na estação 1.
Os estágios do Gripen Production Line
1) Montagem Estrutural
Estação 1 – Montagem das partes estruturais principais: junção da fuselagem dianteira, unidade de armamento, fuselagem central das asas e fuselagem traseira.
Estação 2 – Conclusão da montagem estrutural: tanques de combustível são selados e os testes de pressão são realizados tanto nos tanques de combustível quanto no cockpit.
Estação 3 – Medição Geométrica: é realizada na estrutura para garantir a precisão da montagem. Após a medição a aeronave é movimentada para fora do linha de produção para receber a pintura interna, o verniz anticorrosivo e posteriormente retorna para a montagem final.
2) Montagem Final
Estação 1 – Instalação elétrica e mecânica: A aeronave recebe nesse estágio aproximadamente 35 km de cabos e 300 m de tubulações.
Estação 2 – Instalação de componentes, sistemas e subsistemas: são instalados os aviônicos, APU, motor, rádio, estabilizador vertical e outros componentes.
Estação 3 – Testes de softwares e de funcionamento: O software do Gripen E é instalado e realizado os testes funcionais. Finalizados os testes, a aeronave recebe a pintura operacional.
3) Preparação para o voo
Após a montagem final é realizada a calibração final de sistemas, o motor é acionado pela primeira vez e são realizados os voos de produção. Concluída essa fase, o Gripen E está pronto para iniciar o processo de entrega ao cliente.
Gripen Flight Test Centre (GFTC)
É no GFTC que se encontra a aeronave de testes e de desenvolvimento do Programa Gripen no Brasil, o Gripen E FAB4100 (C/N 39-6001), que conduz os ensaios de voo. O GFTC conta com pilotos, técnicos e engenheiros de testes da Saab, da Embraer e da Força Aérea Brasileira.
Segundo Martin Leijonhufvud, Chefe do GFTC, em 2025/2026 será conduzida a campanha de Reabastecimento em Voo (REVO).
Inclusive foi possível ver aberta, pela primeira vez, a porta do compartimento onde será instalado o probe de reabastecimento do Gripen 39-6042.
A campanha de testes de armamento também será realizada em 2025/2026. Questionado pelo DAN, Martin Leijonhufvud confirmou que a campanha também realizará o lançamento do armamento.
O chefe do GTFC também disse que o FAB4100 vai conduzir outros testes, que também inclui a campanha de lançamento de armamento, já equipado com os novos elevons e canards.
A atividade do GFTC é totalmente integrada ao programa de testes que também está em andamento na Saab em Linköping, desde 2017. As atividades no Brasil também incluem testes nos sistemas de controle de voo e de climatização, assim como testes da aeronave em condições climáticas tropicais, como os testes climáticos realizados em Belém e Salinópolis no mês de maio, que expuseram o FAB4100 a condições quentes e úmidas, com temperaturas chegando a aproximadamente 35ºC e umidade de 85% ao nível do mar.
Gripen Design and Development Network (GDDN)
O GDDN é o centro de engenharia responsável pelo desenvolvimento do Gripen E nas áreas de engenharia aeronáutica, projeto de estruturas, aviônicos, interface homem-máquina, integração de armamentos e comunicações. Em resumo, ele funciona como o eixo central de desenvolvimento do Gripen no Brasil e está conectado com a Saab na Suécia.
Desde de 2016, quando da sua inauguração, o DAN vem acompanhando o desenvolvimento progressivo do GDNN, sendo a última visita em 2019 quando foi inaugurado o Systems-Rig (S-Rig).
Dessa vez a visita foi mais interativa, pois tivemos a oportunidade de “voar” no S-Rig. Esse poderoso simulador é utilizado nos testes de desenvolvimento e verificação dos sistemas, subsistemas e funcionalidades do Gripen no Brasil, sendo um simulador completo do caça, que possibilita o Brasil ter total capacidade para testar todos os sistemas da aeronave, proporcionando ao GDDN maior autonomia para conduzir mais projetos de desenvolvimento no Brasil.
O S-Rig faz parte da Transferência de Tecnogia do Programa Gripen, sendo construído a partir da parceria entre a Saab, Embraer, Atech, AEL Sistemas e Força Aérea Brasileira (FAB), possibilitando que as empresas brasileiras adquiram conhecimento em tecnologia e operações em avançados simuladores.
O S-Rig é o primeiro simulador de desenvolvimento do Gripen construído fora da Suécia e apoia diretamente as atividades do GFTC no preparo dos pilotos antes do ensaio em voo na aeronave de testes.
O futuro
O Gripen foi selecionado no Programa F-X2 devido a possibilidade do Brasil em participar do desenvolvimento de um caça de quarta geração, com transferênca de tecnologa para a indústria nacional, de forma as absorver o conhecimento necessário para o futuro desenvolvimento de novos projetos.
A visita ao Gripen Producton Line demonstra que tudo está funcionando conforme planejado e a transferência de tecnologia está efetivamente sendo realizada em uma verdadeira parceria estratégca entre o Brasil e a Suécia.
Partindo desse princípio, é mandatório por parte do Governo Federal enxergá-lo como um Programa de Estado e dar continuidade ao programa Gripen Brasileiro tendo em vista que, além de ter sido escolhido para ser a espinha dorsal da Aviação de Caça da FAB, é necessário reter todo o conhecimento que foi adquirido, e isso só será possível através da aquisição de novos lotes do Gripen, mantendo a linha de produção ativa nas instalações da Embraer, de forma que a FAB tenha a quantidade suficiente para o cumprimento da sua missão da Defesa do Espaço Aéreo brasileiro, passando a operar um único modelo de caça, moderno e fabricado no Brasil, com capacidade de empregar os mais modernos armamentos e proporcionando a redução dos custos operacionais, logísticos e de manutenção.
Vendo toda esta estrutura dá um aperto ver que a FAB vai comprar F-16 muito provavelmente, espero que em seguida venha ao menos o complemento do Gripen ao primeiro lote.
Não vai comprar F-16 por uma razão muito simples: não terá dinheiro!