No complexo panorama da segurança global atual, os problemas se entrelaçam em uma rede de desafios geopolíticos e estratégicos que exigem respostas tecnologicamente avançadas e adaptativas. O aumento das tensões internacionais, a proliferação de conflitos assimétricos e as ameaças híbridas, juntamente com a urgência de proteger as fronteiras nacionais em um mundo cada vez mais conectado, mas instável, destacaram a importância crítica da vigilância e da coleta de inteligência.
Diante desse cenário, a empresa HENSOLDT (antes Airbus Defense & Space) se posiciona como um pilar no fornecimento de tecnologia avançada de sensores para a defesa. Com uma reputação de excelência em engenharia e uma forte tradição na indústria, a HENSOLDT oferece soluções de ponta que permitem às forças armadas e aos responsáveis pela tomada de decisões uma melhor compreensão do teatro operacional, otimizando assim sua capacidade de responder a ameaças emergentes com precisão e eficácia.
Neste contexto, nos sentamos para conversar com Stefan Billep, atual Head de Desenvolvimento de Negócios da HENSOLDT na América Latina, que possui uma extensa carreira e um profundo conhecimento em temas de defesa, particularmente relacionados ao caça Eurofighter.
DAN – Steffan, como você ve a HENSOLDT dentro desse contexto de tensões e alto desenvolvimento tecnológico na indústria da defesa?
Stefan Billep – Hoje no âmbito europeu, a HENSOLDT está envolvida em vários projetos importantes que reforçam a infraestrutura defensiva do continente sendo um ator chave no fortalecimento da soberania europeia e na colaboração transnacional em matéria de defesa. Esses projetos não só refletem o compromisso da HENSOLDT com a inovação e a colaboração internacional, mas também asseguram sua posição como uma empresa líder no mercado de defesa europeu.
Entre os projetos que a HENSOLDT está desenvolvendo e participando na Europa, posso destacar iniciativas como sistemas avançados de vigilância marítima, programas de modernização de plataformas de combate terrestre e o desenvolvimento de sensores de próxima geração para veículos aéreos não tripulados como o Eurofighter, o Future Combat Air System (FCAS) e o Main Ground Combat System. Na parte naval por exemplo, fora o sucesso do nosso radar TRS-4D , hoje usado em fragatas da Alemanha, USA e BRASIL (programa Tamandaré), também estamos equipando os submarinos europeus com nossos periscópios e mastros optrônicos de submarinos.
DAN – Ultimamente, temos visto muitas notícias sobre o Radar MK1 que vocês estão desenvolvendo para os Eurofighters alemães e também sobre o Domínio do Espectro. O que você pode nos falar sobre o trabalho da HENSOLDT nesses dois projetos?
Stefan Billep – Em particular, o trabalho da HENSOLDT no desenvolvimento do radar AESA (Active Electronically Scanned Array) para os Eurofighters Typhoon alemães e espanhóis destaca sua competência técnica e sua contribuição para o avanço das capacidades defensivas aéreas e do Sistema KALAETRON. Particularmente o KALAETRON Attack representa um avanço tecnológico significativo e está concebido como a base para as novas capacidades de guerra eletrônica do Eurofighter, implicando uma integração direta com os sistemas da aeronave para melhorar sua eficácia operacional e sobrevivência em ambientes hostis.
Com o olhar voltado para o futuro, eu espero que o KALAETRON desempenhe um papel crucial na evolução do Eurofighter e, potencialmente, nas plataformas que formarão a próxima geração de caças alemães, proporcionando uma vantagem estratégica significativa no espectro da guerra eletrônica.
A integração do radar AESA e do sistema KALAETRON pela HENSOLDT é um testemunho do compromisso contínuo da empresa com a excelência em sistemas de defesa aérea e seu papel essencial na melhoria das plataformas militares existentes.
DAN – Qual é a situação atual enfrentada pelas aeronaves da OTAN em espaços aéreos disputados?
Stefan Billep – “Estamos em um cenário onde, assim que um Eurofighter decola da Alemanha, já está dentro do alcance de sistemas integrados avançados de defesa aérea situados no Óblast de Kaliningrado. A Rússia aumentou sua agressividade, utilizando esses sistemas para dominar o espaço aéreo na Europa e restringir a liberdade operacional das forças da OTAN e seus aliados.
A tensão entre as nações da OTAN e outros poderes estatais tem levado a um número crescente de interceptações e encontros próximos em espaços aéreos de interesse estratégico. Por exemplo, neste ano o governo do Reino Unido relatou interceptações de aeronaves russas perto das ilhas Shetland, uma indicação da postura assertiva que algumas nações estão adotando.
Esses espaços contestados não são apenas geograficamente sensíveis, mas também altamente simbólicos, representando a fronteira entre esferas de influência. A OTAN, tem respondido com um aumento na frequência e intensidade dos exercícios aéreos, como o “Air Defender 2023”, que reuniu 250 aeronaves de guerra e 10.000 soldados em exercícios projetados para aumentar a prontidão da aliança contra ameaças aéreas, incluindo drones e ataques de mísseis.
DAN – Como isso afeta as operações da OTAN e qual é a importância do ataque eletrônico neste contexto?
Stefan Billep – “Isso representa uma ameaça significativa para nossos caças e outras aeronaves de apoio, não apenas na Europa. Por isso, a capacidade de desabilitar, enganar e degradar esses sistemas, negando-lhes o uso do espectro eletromagnético, tornou-se um requisito crucial. A OTAN preparou o maior exercício aéreo de sua história, envolvendo 250 aeronaves e 10 mil soldados de 25 países, com o objetivo de fortalecer as capacidades de defesa coletiva e demonstrar a solidariedade da aliança. Este cenário reflete uma clara necessidade de postura defensiva robusta e vigilância constante para assegurar a integridade do espaço aéreo dos membros da OTAN e dissuadir potenciais agressores. Aqui é onda o Ataque eletrônico tem uma maior relevância.
DAN – Como a guerra eletrônica se integra às operações militares modernas?
Stefan Billep – “A guerra eletrônica é um pilar fundamental no combate moderno. Dominar e perturbar as ondas invisíveis no espectro eletromagnético, seja em sinais de radar, comunicações, sistemas de navegação ou guias de armas, concede uma vantagem decisiva nas operações. O ataque eletrônico pode ser usado para proteger as aeronaves durante missões de reconhecimento, vigilância e inserção de forças especiais, garantindo que elas possam operar com um grau menor de detecção pelo inimigo. Além disso, em um cenário de escalada de tensões, a capacidade de realizar ataques eletrônicos pode servir como uma ferramenta de dissuasão estratégica, sinalizando a adversários potenciais que a OTAN ou o país em questão possui meios avançados para contrariar as ameaças e manter a superioridade no domínio do ar
DAN – Como evoluiu a necessidade de capacidades de ataque eletrônico em plataformas como o Eurofighter Typhoon?
Stefan Billep – “Há 20 anos, quando o Eurofighter Typhoon entrou em serviço, as ameaças eram diferentes. Hoje, a capacidade de ataque eletrônico tornou-se uma característica definidora para qualquer força aérea, vital para sobreviver e operar eficazmente em ambientes A2/AD.
DAN – O que a HENSOLDT está fazendo para enfrentar esses desafios e quais são os próximos passos no desenvolvimento de capacidades de ataque eletrônico?
Stefan Billep – “Na HENSOLDT, estamos desenvolvendo soluções como o Kalaetron Attack, um sistema de ataque eletrônico aéreo que permite o jamming digital e proteção contra múltiplas ameaças simultaneamente. Além disso, estamos colaborando em projetos europeus para desenvolver capacidades de EA que permitam operar em ambientes A2/AD. O sistema KALAETRON da HENSOLDT por exemplo, é um desenvolvimento pioneiro no campo da guerra eletrônica, projetado para fornecer capacidades avançadas de interferência e contramedidas eletrônicas. Este sistema modular é capaz de detectar e neutralizar emissões de radar e sistemas de controle de tiro de defesas antiaéreas, protegendo assim as aeronaves contra ameaças tanto conhecidas quanto emergentes.
DAN – Como você vê o futuro da guerra eletrônica e o papel da HENSOLDT nesse domínio?
Stefan Billep – “O futuro da guerra eletrônica é incrivelmente promissor e desafiador. Na HENSOLDT, estamos comprometidos em estar na vanguarda, desenvolvendo tecnologias que não apenas enfrentem os desafios atuais, mas também preparem nossas forças armadas para o futuro.”
Em um mundo onde o domínio do espectro eletromagnético se tornou um campo de batalha crítico, a experiência e a inovação são a chave.
Stefan Billep e a equipe da HENSOLDT estão liderando o caminho, garantindo que as forças armadas estejam equipadas para enfrentar os desafios de hoje e de amanhã.