Por Luiz Padilha
Por ocasião do evento Velas Latinoamerica 2022, quando veleiros do Brasil, Argentina, Perú, Equador e do Uruguai, chegaram ao Rio de Janeiro, um último navio a entrar na Baia de Guanabara era diferente dos demais, por justamente não ser um veleiro. Trata-se do OPV ARC 20 de Julio, da Armada Nacional da Colômbia. Sua presença junto aos demais se deu em função do veleiro ARC Glória estar em manutenção. Por isso o ARC 20 de Julio foi escolhido para representar sua Marinha.
O Navio
Construído na Colômbia pelo estaleiro COTECMAR, o ARC 20 de Julio, é um projeto alemão Fassmer 80. Sua construção teve início em 2010 e comissionamento em 2012. O nome 20 de Julio já pertenceu a outro importante navio da Armada Colombiana, um destróier classe Halland, construído em Malmo na Suécia em 1958. Em seu brasão pode-se observar as 2 estrelas que simbolizam o anterior e o atual.
O estaleiro COTECMAR construiu o ARC 20 de Julio, o ARC 7 de Agosto e o ARC Santander. Com três Navios de Patrulha Oceânico construídos na Colômbia e outros três no Chile e, sendo a primeira vez que um deles visita o Rio de Janeiro, solicitamos a Marinha do Brasil, junto ao comando do 1º Distrito Naval, a possibilidade, face ao Covid-19, do Defesa Aérea & Naval visitar este interessante navio.
Com a resposta positiva, o comandante Capitán de Navío Henry Mauricio Barón Franco, recebeu o editor do Defesa Aérea & Naval, para uma rápida entrevista.
DAN – Qual a razão para a Armada da Colômbia escolher um OPV para representa-la no Velas Latinoamerica 2022? Por que o ARC Glória não veio?
Capitán H. Barón – O ARC Glória está passando por um período de manutenção e como já havia o compromisso com cruzeiro Velas Latinoamérica 2022, foi decidido enviar um navio que possui um significado muito importante para nossa Marinha e para nossa mensagem do Bicentenário (2023), por isso a escolha do 20 de Julio.
O 20 de Julio é o primeiro navio dessas dimensões construído por colombianos na empresa COTECMAR, sendo motivo de orgulho para a Marinha colombiana como também para o povo colombiano. Atualmente possuímos três navios desta classe, e assim temos crescido, demonstrando o nosso desenvolvimento marítimo na região.
É importante ressaltar que este navio já participou em quatro ocasiões de Operações Antárticas, que são muito importantes para nossas universidades e comunidade científica, em uma região de grande importância para nós e para o mundo.
Nós somos embaixadores de nosso país, mostrando nossa bandeira, mostrando nosso primeiro navio de patrulha oceânico construído na Colômbia, e também temos embarcado um grupo com 25 guarda-marinhas, que são cadetes do 4º ano, sendo que dois são mulheres, que estão se adaptando a vida de oficial naval, treinando e vivendo o dia a dia a bordo.
DAN – Este navio possui reforço no casco para poder realizar operações na Antártida?
Capitán H. Barón – Não. Quando decidimos construir o 20 de Julio, verificamos com nossos irmãos da Marinha chilena que possuem o mesmo tipo de OPV, que nosso navio possui capacidade de operar na Antátida. Atualmente estamos construindo um novo OPV, que chamamos de Geração 2, maior e com capacidade para levar mais cientistas, laboratórios e equipado com mais guindastes para operações na Antártida.
DAN – Este navio é um projeto colombiano ou uma adaptação do modelo da Fassmer?
Capitán H. Barón – Não, ele é um projeto colombiano, onde a experiência de construir os três OPVs Fassmer 80, nos ajudou a definir e adaptar o projeto para as nossas necessidades.
DAN – O Sr. poderia nos contar como está sendo a experiência de uma viagem de Cartagena até o Rio de Janeiro, a perspectiva de seguir o roteiro da Velas Latinoamerica e como está a motivação de sua tripulação?
Capitán H. Barón – Foram 22 dias de navegação até o Rio de Janeiro. Fizemos um grupo de comandantes e nos reunimos para pensar como atenuar os longos dias navegando longe de casa, por exemplo. Nós somos um navio de guerra e estamos ajudando e escoltando os veleiros com nossa capacidade através de nossa lancha de reação rápida, podendo apoiá-los em qualquer situação no mar.
Temos em nossos cerimoniais marítimos no mar com os outros veleiros e assim nos sentimos dentro deste cruzeiro, porque existe a fraternidade entre os marinheiros na América Latina. Apesar da maioria falar espanhol, visitamos o Cisne Branco e vimos que não existe uma barreira de idioma e sim um sentimento marinheiro, que para nós é uma experiência genial, podermos nos integrar com marinheiros de outras regiões e ver que os sentimentos são muito parecidos, como o amor pelo mar, a saudade da família devido a distância e ver que tudo isso nos une para que todos possamos integrar nossas culturas e aprender com todos.
DAN – A velocidade dos veleiros é baixa, para acompanhá-los os motores WÄRTSILÄ do 20 de Júlio sofrem algum tipo de restrição?
Capitán H. Barón – Não. Os motores WÄRTSILÄ são motores que possuem um desempenho muito bom a velocidades de cruzeiro de 10 nós. Os veleiros navegam a velocidades entre 6 e 8 nós, então não é uma janela que atrapalhe o desempenho dos motores do 20 de Julio. Esses motores não tem um consumo de combustível alto o que nos permite realizar etapas maiores no mar. Partimos de Cartagena e fizemos 22 dias de navegação, chegando ao Rio de Janeiro sem nenhum problema. Abastecemos e não temos nenhum problema com nosso sistema de propulsão.
DAN – Qual a autonomia de seu navio navegando com velocidade de cruzeiro?
Capitán H. Barón – Podemos ficar no mar até 30 dias.
DAN – Como um OPV este navio possui algumas características interessantes, como ter um canhão de 40mm como arma principal, um convoo com hangar e uma porta para lançamento de lancha de reação rápida.
Capitán H. Barón – Nosso canhão é um canhão Bofors de 40mm de municiamento manual e disparo automático desde nosso CIC (Centro de informações de Combate). A vantagem que temos com ele é que por ele não penetrar no casco, ganhamos um compartimento para 25 pessoas, passamos de 70 camas para 98 camas, que tanto podem ser usadas por cientistas nas operações na Antártida, como também para alguma missão de ajuda humanitária. O 20 de Julio é um navio de guerra multifunção, pois podemos levar dois conteiners, que podem estar equipados com laboratórios, consultórios ou outros equipamentos para realizar ajuda humanitária.
DAN – Quando recebemos a visita de navios de guerra no Brasil, as vezes ocorrem algum tipo de exercício entre os navios de nossa Marinha com o navio visitante (PASSEX). Existe algum exercício programado entre o 20 de Julio e algum navio da Marinha do Brasil durante a passagem pela nosso litoral?
Capitán H. Barón – Sim, podemos verificar essa possibilidade. Não falamos sobre isso com o comando, porque a instrução é para acompanhar os veleiros. temos conversado com os outros comandantes para realizar o intercâmbio entre as tripulações de guarda-marinhas. Me parece muito interessante a possibilidade de uma interação com um navio de guerra da Marinha do Brasil, para trocarmos experiências e conhecimentos navais. Por exemplo, seria muito interessante poder receber alguma aeronave da Marinha do Brasil em nosso navio.
Gostaria de dizer também que esta edição do Velas Latinoamerica 2022 é o início das comemorações do Bicentenário da Armada Colombiana em 2023.
Por dentro do ARC 20 de Julio
Praça D’Armas
Coberta de Racho
CCM e Praça de Máquinas
Kandala – Uma cadela farejadora a bordo
A Armada da Colômbia enviou um cão farejador para acompanhar a Velas Latinoamerica 2022. A cadela Kandala embarcou pela primeira vez a bodo do ARC 20 de Julio, provendo a segurança da tripulação durante o evento.
Este é mais um diferencial que mostra que cada Marinha possui características próprias para operar no mar.
Lancha de Reação Rápida
Agradecimentos: O Defesa Aérea & Naval gostaria de agradecer a ajuda da Marinha do Brasil, que através do Comando do 1º Distrito Naval, possibilitou a realização deste artigo, inclusive realizando o teste de Covid-19, para manter o controle sanitário do evento. Gostariamos de agradecer também ao comandante do ARC 20 de Julio, Capitán de Navío Henry Mauricio Barón Franco, pela fidalguia com que nos recebeu a bordo e o nosso muito obrigado a Tenente Contreras que me acompanhou durante a visita.
Navio maravilhoso!
Excelente matéria!
Caro Luiz Padilha. Parabéns ao senhor e ao DAN!
Destaque para o “cachorrinho”.
Bela embarcação, parabéns a nosso vizinhos e aliados por possuírem tal meio e pela rica em projetos que é a indústria naval militar Colombiana
Belo navio! Interessante a presença de hangar e da lancha rápida, coisas que fazem falta nos Amazonas (apesar de eu ainda achá-los mais bonitos hahaha). Seria interessante para a MB?
Parabéns pela entrevista, Padilha!
A classe Amazonas opera lanchas rápidas chamadas Pacific 24. Você critica algo que nem sabe se temos ou não!
O interessante para a Marinha seria continuar o projeto já adquirido, isso gera escala de produção das peças sobressalentes para a classe. Não adianta se deslumbrar com os navios estrangeiros que aqui aportam achando que seria interessante para nós achando que tudo o que temos é inferior.