“Nossa meta é desenvolver tecnologias necessárias à Marinha”
Por Luiz Padilha
Desde 1953, oficiais da Marinha do Brasil já pensavam em criar um laboratório de pesquisas científicas e tecnológicas, e em 1955 foi lançada a pedra fundamental do futuro laboratório de pesquisas tecnológicas da Marinha, porém, foi em 1959 que através do decreto do Poder Executivo, o Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM) foi criado.
Na década de 70, o IPqM além da parte militar, também desenvolvia projetos nas áreas de biologia marinha (Projeto Cabo Frio), energia solar, biomassa, alimentação e saúde. Em 1984 foi criado o Instituto Nacional de Estudos do Mar (INEM), atual Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), que assumiu as pesquisas na área de biologia marinha, e a partir de então, o IPqM passou a trabalhar em projetos focados no emprego militar.
Seu comandante atual é o Capitão de Mar e Guerra, Wallace Affonso Alves, que tem sob sua responsabilidade, importantes programas tecnológicos em desenvolvimento, alguns já em uso nos navios da Marinha, com o IPqM atualizando-os constantemente.
Durante minha visita, o CMG Affonso fez três colocações interessantes sobre qual seria o melhor caminho a ser seguido pela Marinha.
1 – A Marinha do Brasil deve investir em C,T&I?
2 – Comprar pronto ou Desenvolver?
3 – Devemos ser inovadores da fronteira tecnológica ou inovadores seguidores?
São colocações bem coerentes que nos faz parar para pensar se a Marinha está no caminho certo ou não para atingir seus objetivos.
O IPqM e sua missão
Para atender as necessidades da Marinha, o IPqM realiza desde a pesquisa científica, o desenvolvimento tecnológico de sistemas, equipamentos, componentes, materiais e técnicas, nas áreas abaixo:
- Sistemas de Armas & Sensores;
- Guerra Eletrônica;
- Guerra Acústica;
- Sistemas Digitais e
- Tecnologia de Materiais.
Com o desenvolvimento das áreas acima, a Marinha procura conseguir sua independência tecnológica, fazendo com que a Base Industrial de Defesa (BID) se fortaleça e o país cresça tecnológicamente.
O CMG Affonso pontuou que um dos objetivos futuros é que, até 2025 o IPqM seja considerado uma ICT de referência no âmbito federal, em sua área de atuação.
Por possuir uma grande gama de pesquisas, o IPqM foi organizado com duas Superintendências distintas como pode ser visto abaixo.
Neste artigo vamos tratar da Superintendência de Pesquisa e Desenvolvimento. Como visto acima, o IPqM possui diferentes programas em andamento que seguem as Macrometas do CTMRJ.
O IPqM trabalha em um modelo conceitual de baixo custo, baseado num veículo submarino para o desenvolvimento de tecnologias de subsistemas acústicos, de navegação e controle. O Laboratório de Sistemas Inerciais desenvolve atualmente um protótipo de navegador inercial, com financiamento da FINEP, para ser usado em um veículo submarino autônomo.
O IPqM também desenvolveu o Gerador de Ruído para o Torpedo Mk-48, que tem como finalidade, subsidiar os testes com o Torpedo MK-48. Instalado em um alvo e ele é uma fonte de ruído acústico para atrair o Torpedo.
SLDM (Sistema Lançador de Despistadores de Mísseis)
Desenvolvido pelo IPqM para equipar as fragatas classe Niterói durante o ModFrag, o SLDM cumpre a missão, mas como todo equipamento, ele precisava evoluir, requerendo alto investimento. Com a chegada da Fragata Classe Tamandaré, optou-se pelo sistema Therma C-Guard, pois não haveria tempo e dinheiro para igualar o SLDM MOD.1 aos modelos atuais no mercado. Alguns modelos atuais possuem base giro estabilizada, operam em três diferentes modos: manual, semiautomático e totalmente automático.
Minas Submarinas de Fundeio
As Minas Submarinas de Fundeio desenvolvidas no IPqM estão em pleno uso pela MB. Com sua alta sensibilidade acústica, magnética e de pressão, graças a seu algoritimo de detonação, elas são perfeitas para emprego contra meios de superfície e submarinos.
MAGE Defensor MK3
Desenvolver seus próprios Sistemas de Guerra Eletrônica, é muito importante para uma Marinha que não deseja ser totalmente refém de caixas pretas. O IPqM por essa razão, desenvolveu o MAGE Defensor ET/SLR-1, que era capaz de detectar e classificar mais de 100 emissões, permitindo a escolha automática ou manual de uma ameaça. O MAGE Defensor foi instalado na Corveta Barroso e depois nas Fragatas classe Niterói.
Atualmente em sua versão mais moderna, O MAGE Defensor MK3 será fabricado no Brasil pela Omnisys e irá equipar as futuras Fragatas classe Tamandaré. O IpqM também desenvolve o protótipo do MAGE Defensor Mk3 em uma versão veicular para apoio as ações dos Fuzileiros Navais.
SONAT – Sonar Ativo Nacional
A Marinha devido a idade dos sonares EDO 997C que equipam a Corveta Barroso e as Fragatas classe Niterói, não conseguia mais obter sobressalentes para mantê-los operando. Coube então ao IPqM implementar o Hardware e Software para substituir componentes da unidade 1 que faz a interface com o operador e da unidade 4 que faz o processamento do sonar.
Como os transdutores do sonar EDO 997C estavam em perfeitas condições, foi necessário o desenvolvimento do software e sua integração com a cadeia de processamento, aquisição e geração dos sinais de áudio e interface com o operador, o que proporcionou para a Marinha a extensão da vida útil do sonar. Recentemente o SONAT foi aprovado nos testes de aceitação de Mar pela Diretoria de Sistemas de Armas da Marinha (DSAM).
SCAV – Sistema de controle de Avarias
Este sistema é de vital importãncia para o controle do navio, seja durante sua navegação quanto atracado. O IPqM desenvolveu o SCAV para o programa de modernização das Fragatas classe Niterói, sendo instalado no fim dos anos 90, inicialmente nas fragatas Liberal, Defensora e União.
O SCAV tem como função coletar informações em tempo real de diferentes sensores instalados no navio permitindo ao operador ter informações como: Alagamento; Fumaça; Temperatura; Abertura de portas estanques entre outros, fornecendo apoio para uma rápida tomada de decisão do Comando, monitorando e visualizando situações de avaria e permitir a atuação de equipamentos localizados em diversos compartimentos do navio.
O SCAV é customizável, permitindo ao IPqM instalá-lo em qualquer classe de navio. A Fragata Defensora recebeu a versão atualizada em junho de 2020. Utilizando Inteligência Artificial (IA), o SCAV possui um módulo de apoio a decisão, possibilitando que o sistema trace rotas de extração de fumaça e de fuga em situações de acidente. Caso ocorra um alagamento, o SCAV pode calcular a melhor forma de se estabilizar o navio, fazendo sondagens nos tanques, por exemplo.
O SCAV desenvolvido pelo IPqM é de uso Dual, existindo também uma versão civil deste sistema para uso predial.
SCM – Sistema de Controle e Monitoração
O SCM tem como função, o monitoramento e controle da propulsão, atuando tanto no controle dos MCPs e MCAs (Motores Diesel), quanto controle das Turbinas. O Sistema possui três subsistemas: SCMPA (Subsistema de Controle e Monitoração de Propulsão e Auxiliares); SCAV e SMR (Subsistema Manual Remoto). Os sistemas podem ser instalados em qualquer navio, juntos ou de forma independente.
O SCMPA monitora e controla a propulsão do navio fornecendo os “set-points” para os reguladores dos motores e turbinas. O SCM garante a interação entre motores e turbinas e seus “acessórios” (engrenagem redutora, acoplamento e hélice de passo variável).
O SCAV abordado acima. O SMR atua como último recurso no controle direto dos motores e turbinas, para o caso dos computadores do SCMPA estiverem inoperantes. O Modo Remoto possui prioridade no controle dos equipamentos, cabendo ao operador a definição da propulsão e velocidade do navio.
STERNA – Sistema Tático de Enlace de Dados em Radiofrequência Naval
Atualmente a Marinha do Brasil utiliza o link de dados YB (Yanque Bravo) e o IPqM está desenvolvendo o STERNA, um link de dados mais poderoso que possui um protocolo de rede TDMA dinâmica, possibilidade de mais participantes na rede, alta velocidade e segurança na troca de informações entre os participantes, gerenciamento automático da rede, gerando maior confiabilidade das informações, podendo ser utilizado por rádios V/UHF e HF que a marinha usa e também por rádios definidos por software (RDS). O STERNA implementa também, um catalogo de mensagens entre as forças.
O domínio e a consolidação da linha de desenvolvimento de Link de Dados Táticos, bem como sua criptografia, mantém a equipe de desenvolvimento do IPqM sempre atualizada em novas tecnologias.
CISNE – Centro de Integração de sensores e Navegação
O CISNE é um navegador do tipo WECDIS (Warship Eletronic Chart Display Information System), com os requisitos dos navios da Marinha do Brasil, com as mesmas funções existentes no sistema ECDIS.
Além das funções de um ECDIS como, suporte a navegação segura, planejamento e monitoração de derrotas, aquisição de contatos utilizando cartas eletrônicas, o CISNE incorpora algumas funções não encontradas nos sistemas comerciais.
Por ser um WECDIS, o CISNE possui AML (Additional Military Layers), conferindo a capacidade de comunicação com links de dados como o YB e a inclusão de cálculos táticos e doutrinas próprias da Marinha. O CISNE é integrado o projeto SCUA e com os simuladores SimNav e SSTT-3.
SisC2Geo – Sistema de Comando e Controle Georreferenciado
Utilizando a plataforma HIDRA, propriedade do IPqM, o SisC2Geo é um sistema de Comando e Controle Tático nos navios da Marinha, possuindo sensores e armamentos integrados para fornecer uma compilação dos dados e totalmente integrado a sistema de navegação no passadiço.
A plataforma HIDRA é utilizada no projeto piloto do SisGAAZ, SSTT, no SimNav e no Simulador de Periscópio (SimPer), o que facilita muito a manutenção entre os sistemas.
SisGAAZ – Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul
O SisGAAZ pode ser classificado como um dos programas mais importantes da Marinha, pois será esse sistema que dará a Marinha, a consciência situacional de toda a área sob sua responsabilidade no Atlântico Sul.
O IPqM trabalha no desenvolvimento de modelos que farão, por exemplo, a fusão de dados de todos os sensores ativos e passivos que comporão o SisGAAZ, realizando a vigilância marítima e submarina da chamada Amazônia Azul. A implementação do SisGAAZ, irá aumentar de maneira significativa a capacidade da Marinha em classificar comportamentos anômalos e apoio a operações de Search and Rescue (SAR).
Os sensores deverão ser instalados nas áreas estratégicas do nosso litoral, como por exemplo a entrada da Baia da Guanabara, a Baia de Sepetiba onde se localiza a Base de Submarinos da Ilha da Madeira (BSIM) e demais Distritos Navais.
MARE e Base Bleed
O IPqM trabalha na área de materiais especiais desenvolvendo o MARE (Materiais Absorvedores de Radiação Eletromagnética), que visa a redução da seção reta radar das embarcações, dificultando a detecção por radares.
Já o projeto “Base Bleed” visa a nacionalização do propelente sólido para munições de alcance estendido a serem produzidas na fábrica de munição Almirante Jurandyr da Costa Muller de Campos, Campo Grande-RJ.
Eu trabalhei no SLDM e foi responsável pela fabricação, teste e integração dos 7 conjuntos de lançadores; já existiam esboços de um sistema mais evoluído acrescentando movimento dos lançadores, que diminuiria para 2 a necessidade de lançadores por navio, e atualização do software e hardware integrando o display de modo local em um mesmo monitor. Não sei qual a razão da MB ter optado pela aquisição de um modelo importado, perdendo-se toda a experiência adquiida com o desenvovimento do SLDM.
Muito orgulho de ter sido servidor deste Instituto por 30 anos. Lotado de gente competente. Mas o que eu não consigo concordar é com “motivos” para não se adotar soluções nacionais, e preferir as importadas. Por exemplo, o texto “o SLDM cumpre a missão, mas como todo equipamento, ele precisava evoluir, requerendo alto investimento. Com a chegada da Fragata Classe Tamandaré, optou-se pelo sistema Therma C-Guard, …” só me diz que alguém pisou na bola. Sem fazer conta nenhuma, tenho certeza que com uma fração do que vai ser pago pelo sistema pronto (e sem dominarmos a tecnologia) daria para investir na continuação do projeto nacional, e ainda pagar alguns outros profissionais para reduzir o tempo do desenvolvimento. Mentalidade tacanha não investir no nacional.
Interessantes estas matérias sobre os vários departamentos da MB, sempre é bom pra saber que a Marinha não é só “navio, avião e helicóptero”.
Mas, destes sistemas apresentados, quais estarão na nova classe Tamandaré ?!?
Por enquanto, apenas o MAGE Defensor MK3.
Não falaram nada do principal, que seria a plataforma inercial para o míssil Mansup. A MB é que fornecia a plataforma para o míssil. Pelo jeito não deu em nada.
Quando visitei, não me foi apresentado nada sobre o MANSUP no IPqM.
Com certeza é informação classificada (secreta) !!!
A anos se fala dessa plataforma inercial brasileira (nacional) !!!
https://www.gov.br/aeb/pt-br/assuntos/noticias/brasil-desenvolve-sistema-de-navegacao-de-satelites-e-foguetes
Muita coisa ai hein, show !!!