Por Igor Gielow
A Embraer, terceira maior fabricante de aviões comerciais do mundo, entrou no mercado de segurança cibernética. A empresa paulista passou a controlar a Tempest Serviços de Informática, líder do setor no país, em um negócio com valores não revelados.
Além disso, a Embraer comprou uma participação de R$ 20 milhões na Kryptus, empresa que fornece soluções de criptografia para as Forças Armadas brasileiras, entre outros. A Atech, subsidiária de sistemas tecnológicos da Embraer, deverá coordenar os esforços das três empresas no mercado, que em 2019 movimentou US$ 1,5 bilhão (R$ 8,1 bilhões nesta terça, 30) no país. “São empresas complementares”, afirmou o presidente da Embraer Defesa e Segurança, Jackson Schneider.
O movimento vem na esteira da derrocada do acordo para a venda da área de aviação comercial da Embraer para a Boeing e o impacto da pandemia nos negócios do setor. Schneider diz que o investimento na área de cibersegurança, o maior do gênero na América Latina, já estava previsto. “Isso está no nosso DNA de inovação”, afirmou, ressaltando contudo que a pandemia Covid-19 “vem acelerando tendências” no mundo todo. “O trabalho será mais virtual, assim como os processos e ferramentas. É preciso atender a necessidade de segurança no tráfego de dados”, diz. Isso é bastante óbvio na área civil.
Crimes cibernéticos contra instituições bancárias somam US$ 10 bilhões (R$ 54 bilhões) anuais no Brasil, segundo mercado para bandidos digitais depois da Rússia. As aplicações em defesa são ainda mais amplas.
As demandas vão da criptografia de dados do sistema de fronteiras do Exército, já atendido pela Kryptus, a discussões sobre o uso de inteligência artificial e proteção de usinas elétricas e nucleares.
A Embraer também vê potencial de sinergia com o mercado que anda de mãos dadas ao de cibersegurança, o espacial. Afinal de contas, tudo passa por satélites. A empresa tem uma subsidiária, a Visiona, que deverá lançar o primeiro nanossatélite de uma constelação nacional em 2021.
A Tempest foi aberta no Recife em 2001, tem 300 funcionários e 250 clientes no Brasil e no exterior. O grupo que edita a revista The Economist é um deles. Ela já era apoiada pela Embraer por meio do Fundo de Participações Aeroespacial, que conta com o BNDES e a Desenvolve SP, entre outros. “A robustez da Embraer vai nos ajudar a expandir essa missão para novos mercados”, diz seu presidente, Lincoln Mattos, que manterá cargo e equipe.
Já o aporte na Kryptus, que além da área militar atende diversos setores, mira uma expansão internacional e será feito por meio do Fundo de Participações. “Esse aporte chega em um momento de consolidação”, diz o fundador da empresa, Roberto Gallo. A empresa já tem contratos com a Marinha do Peru e o Exército da Colômbia.
Schneider vê o mercado cibernético com estratégico. “Há incríveis movimentos geopolíticos, reestruturação de cadeias produtivas ocorrendo.” O fim do negócio da Embraer com a Boeing levou a especulações acerca do futuro sua sobrevivência fora do duopólio produtivo global, dos americanos e dos europeus da Airbus é questionada. O presidente da empresa, Francisco Gomes Neto, confirmou no mês passado que há interesse na busca de novos parceiros no mercado mundial.
As opções não são muitas, naturalmente, e analistas apostam na Comac, a estatal chinesa de aviação comercial que busca se posicionar no mercado. A questão é que hoje uma parceria com a China coloca qualquer empresa de um lado da Guerra Fria 2.0 estabelecida entre Washington e Pequim. Isso teria implicações importantes para os produtos de defesa da Embraer, o novo cargueiro C-390 Millennium à frente.
A Folha questionou Schneider sobre isso. Diplomaticamente, ele disse que a Embraer está “absolutamente aberta para conversar” com parceiros externos. “Mas nós respeitamos todos as limitações impostas por nossos fornecedores europeus e americanos na área de defesa”, disse.
Assim, especificamente para a Embraer Defesa, “há países ‘off-limits’ [fora do limite de operação]”. Ele ressalta, contudo, que pela natureza dos negócios da empresa, “nada será diferente do que o Estado brasileiro” preconizar.
A Embraer, lembra, nasceu como uma estatal em 1969 , e sua linha de defesa foi desenvolvida de acordo com necessidades da Força Aérea mesmo após a privatização de 1994. O C-390 é um exemplo. Tendo recebido investimentos de desenvolvimento de R$ 5 bilhões do governo, o avião agora é uma realidade.
O terceiro de 28 encomendados, por R$ 7,2 bilhões, foi entregue à FAB nesta semana. As aeronaves estão ativas na operação de transporte de material e pessoal para o combate à Covid-19. A primeira unidade a ser exportada, de cinco compradas por Portugal, teve produção inicial começada e deve ser entregue até 2023.
“Mesmo nessa crise, recebemos duas consultas bastante firmes de países interessados”, disse, sem revelar os clientes potenciais. A venda do C-390 e de sua versão com capacidade de reabastecer outras aeronaves, o KC-390, seria feita a partir de uma joint-venture com a Boeing. Ela morreu com o negócio da área comercial, alvo de dura disputa em arbitragem entre as empresas, a Embraer acusa a Boeing de ter rompido o contrato devido à sua própria crise, enquanto americanos falam genericamente em cláusula não cumpridas pelos brasileiros.
O futuro de um acordo anterior, de campanhas de marketing no exterior do cargueiro, ainda não foi definido, mas parece improvável que ele siga em frente. A área de defesa respondeu em 2019 por 14,2% da receita da Embraer, ante 40,8% da comercial, 25,6% da executiva e 19,4%, de serviços e outros.
Sob impacto da Covid-19 e da dissolução do acordo com a Boeing, a empresa registrou prejuízo de R$ 1,3 bilhão no primeiro trimestre deste ano.
FONTE: Folha de São Paulo
Alguém reparou na pintura do C390, será que é o de Demonstração da Embraer??
Derson,
Não é foto, é uma ilustração do C-390 (muito bem feita por sinal), divulgada pela Embraer quando do anúncio do nome Millennium e das distintas versões C e KC.
Abs,
Gostaria muito que alguém questionasse ao Jackson Schneider ou outro dirigente na cúpula da EMBRAER sobre a fusão ou joint-venture ou um modelo de negócio com a Sierra Nevada Corporation para produzir nos EUA a família de E-Jets 2 da EMBRAER para concorrer diretamente com a Airbus e seus Bombardiers A220…
O mercado da Aviação que REALMENTE interessa prioritariamente à Embraer é os EUA!
Tanto pelo lado da aquisição das partes e peças que são usados na produção dos jatos da aviação comercial da Empresa como, e principalmente, na maior fatia dos clientes que as compram que são dos EUA.
Qualquer associação ou fusão da EMBRAER com outro parceiro fora dos EUA não faz o menor sentido, é mais lógico continuar no caminho percorrido até hoje como uma empresa brasileira…
A única coisa que pode mover a EMBRAER no futuro imediato, é que (ainda mais em função da epidemia da COVID-19) é existe uma quase inevitabilidade de previsão de mercado da diminuição do tamanho da aviação civil no mundo todo e a perspectiva quase sacramentada de que o reinício será lento e focado nas aeronaves A220 e a nova família de E-Jets 2 da Embraer; que devem se tornar dominantes nas encomendas nos próximos anos (quando houverem novas encomendas).
A Boeing sem o portfólio de produtos da Embraer terá imensas dificuldades na aviação comercial na adequação ao mercado nos próximos anos…
O que importaria HOJE para a Embraer seria ou simplesmente focar em ficar atrás da Airbus operando no Brasil ou abrir uma linha de montagem nos EUA para concorrer com as mesmas condições da Airbus.
A Sierra Nevada Corporation é uma empresa menor que a EMBRAER, mas tem muita influência no mercado americano de defesa e muita ambição corporativa (é só visitar o site da empresa) e seria uma parceria entre empresas muito mais equilibrada.
Talvez até o mais lógico seria um modelo de negócio onde a empresa resultante (joint-venture independente ou fusão) atue tanto na área de aviação civil como no complexo de defesa com as participações invertidas.
Por exemplo na Aviação Comercial(que é a expertise da EMBRAER ) seria a SNC que ficaria com 40% ou 35% devido ao valor da SNC de proporcionar o acesso ao mercado americano, já na parte de Defesa seria a EMBRAER que ficaria como share menor de 30% ou 25% pelo mercado e maior expertise da SNC no segmento nos EUA.
Dependeria da coragem da EMBRAER de formar uma parceria não com uma das duas gigantes do setor para se reposicionar de um terceiro passivo para um terceiro desafiador que quer passar pelo menos para segundo…
A SNC parece firmemente uma corporação que sonha em se tornar mais próxima da Boeing, Raytheon e Lockheed Martin no complexo militar americano.
O projeto do veículo espacial Dream Chaser, se bem sucedido, me parece ser o ticket definitivo da empresa para o nível de cima dos grandes projetos que ela almeja na Base Industrial de Defesa dos EUA…
Só a SNC faz algum sentido econômico estratégico, neste momento, para a EMBRAER em substituição à Boeing.
E esta nova joint-venture (com um eventual sucesso na vendas dos E-JETS 2 nos EUA) seria uma verdadeira faca na garganta da Boeing de um lado e do lado oposto do pescoço ao mesmo tempo estaria cravada uma outra faca com os Airbus canadenses A220 feitos nos EUA…
SE não saiu a fusão com a Boeing e a Airbus já juntou a trouxinha com a Bombardier, não há alternativa viável para um parceiro comercial mais forte para levar a EMBRAER pela mão com garantia de sucesso.
A empresa brasileira vai ter de continuar a ralar mesmo sozinha ou apostar num parceiro de negócios mais equilibrado (ou mesmo menor) para poder disputar o mercado nos EUA nas melhores condições que a Airbus parece que alcançou…
Duas excelentes noticias, primeiro esse movimento da Embraer para um mercado que será essencial no futuro próximo, e a noticia de interesse firme de dois países em nosso KC.
Particularmente não tenho muita confiança nesta diretoria que aparentemente vinha moldando-se a “fusão” com a Boeing há muito tempo. Nada mudou, nada impede que esta mesma diretoria receba de braços abertos um arrependimento “sincero” por parte da Boeing, afinal todos podem se arrepender dos seus erros ! A ideia do Marcos de que “A Embraer costurou e uniu parte da cadeia de fornecedores do Link BR-2” me deixa nervoso quanto é um projeto de longa duração para nós e de grande importância para Defesa Nacional. Sabemos que mesmo nossos “amigos” teriam interesse nisto …. acho que se muitos dizem erradamente que a Embraer há muito é uma empresa privada…multinacional ( mais “multinacional” do que nacional hoje) a Empresa deveria ao fazer estas aquisições deveria ser submetida a novas salvaguardas que impeçam novas trocas desproporcionais como a da Boeing. A Embraer ao que parece tem uma certa dificuldade de escolher seus “amigos” !
O setor comercial já estava se afunilando a muito tempo. Setor este que agora ficará estagnado pelos próximos 10 anos, enquanto as companhias estarão se recuperando, pagando dívidas adquiridas pós-anúncio do COVID-19 e tentando recuperar a confiança dos consumidores.
A empresa estava mais do que certa em querer manter apenas os segmentos Executivo e D&S, que são muito mais estáveis e não tão vulneráveis as intempéries do mercado.
Acho que a EMBRAER merece uma Biografia pois existe uma grande quantidade de “vácuos” na sua história pública ! Gostaria muito de uma biografia não autorizada, algo bem diferente de algo produzido pela assessoria de imprensa aí talvez eu desistisse finalmente de torcer pelo seu sucesso. Isto se São Dollar deixar !!!
Agora sim, notícia espetacular.
Taí o que o Gallo da Kryptus falou na live que algo aconteceria nos próximos dias, mas não podia revelar ainda. Precisamos fortalecer a Embraer c/ aporte de verbas regulares p/ os programas contratados pelo GF, assim ela vai precisar de menos empréstimos p/ vencer esse momento crítico.
Exatamente Luciano!
Nem nós podíamos falar… rsrsrsrsrs
Era um Furo, mas tiveram que tapar c/ silver tape.
Excelente matéria!
A Embraer costurou e uniu parte da cadeia de fornecedores do Link BR-2
Vem novidades por ai?