Por Primeiro-Tenente Maria Helena Lima da Costa Reis e Primeiro-Tenente Osmária da Cunha
O filósofo chinês Confúcio, (cerca de 500 a.C.) ao dizer que “uma imagem vale mais que mil palavras”, valoriza o que pode ser visto. Contudo, onde os olhos não alcançam, o som tem muito a dizer. Para monitorar ambientes obscuros, como o submarino, é primordial estudar a propagação de ondas, a fim de identificar a presença de “ameaças” e aferir o impacto das ações humanas no bioma marítimo.
A acústica submarina, área de pesquisa cada vez mais empregada em estudos oceanográficos e ambientais, desempenha um papel importante em sistemas de Defesa, já que aborda os comportamentos físicos e biológicos debaixo d’água. É essencial para o desenvolvimento do País a manutenção da soberania e a proteção de riquezas.
A Marinha, como guardiã das águas brasileiras, é a responsável por essa área, por meio do Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM), localizado em Arraial do Cabo (RJ). Lá são realizadas pesquisas e desenvolvidas tecnologias para o monitoramento do ambiente subaquático.
Defesa e soberania no mar
No quesito segurança, a independência tecnológica é fundamental para defesa nacional, mesmo em tempos de paz. Quanto à aplicação da acústica submarina, em navios de superfície e submarinos da Marinha do Brasil (MB), pode-se mencionar, por exemplo, a elaboração de modelos matemáticos e de algoritmos de processamento de sinais, visando o auxílio à detecção, no mar, de um possível “inimigo” ou “ameaça”.
De acordo com um dos membros do Grupo de Sistemas Acústicos Submarinos do IPqM, Capitão-Tenente Engenheiro Naval, Fabrício de Abreu Bozzi, são diversas as possibilidades de utilização da acústica submarina. Um exemplo, segundo ele, é quando há um grande fluxo de embarcações no mar, como em um monitoramento de um grande porto, a fim de aprimorar o controle de entrada e saída dos navios.
“Em determinadas condições atmosféricas, às vezes, o radar não capta e as câmeras não conseguem visualizar os navios e embarcações menores, como os botes, que podem estar praticando algo ilícito como tráfico de drogas. Com o sonar fixo no cais e os sensores debaixo d’água, é possível detectá-lo. É como se o sistema fosse os ‘olhos’ do submarino”, explica Bozzi.
De acordo com o mestre em Oceanografia com ênfase em Transdutores Hidroacústicos e Encarregado da Divisão de Equipamentos Acústicos Submarinos do IPqM, Orlando de Jesus Ribeiro Afonso, ao empregar equipamentos como o sonar, em modo passivo, um submarino pode atuar como plataforma de observação e escuta. Com isso, é possível identificar os tipos de embarcação que produzem as ondas acústicas que incidem sobre a estrutura externa.
Em defesa da vida marinha
A Marinha preocupa-se com o impacto humano no meio marinho. A Força Naval está envolvida em um projeto que atende a uma exigência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis para realizar levantamentos do impacto acústico sob o mar.
Para tanto, foram implantados alguns gravadores, desenvolvidos pelo IPqM, na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, e no Porto de Santos, em São Paulo, com a finalidade de monitorar o campo acústico produzido por embarcações e plataformas de petróleo. O objetivo é avaliar a influência dos ruídos hidroacústicos produzidos pelo homem na vida marinha e biológica da região, conforme explica o engenheiro Orlando de Jesus.
“Estamos utilizando gravadores submarinos para, posteriormente, fazer análises de ruídos irradiados pelas plataformas de exploração de petróleo e pelo trânsito de navios. Essas informações vão gerar um banco de dados que, por sua vez, será disponibilizado para a comunidade científica, como forma de auxílio nas pesquisas. Na prática, os instrumentos captam sons existentes no local e se no momento passar uma biota marinha, como golfinhos e baleias, os equipamentos gravarão os sons produzidos. A ideia é avaliar o quanto a energia acústica interfere na integridade orgânica da vida marinha”, conclui.
A contribuição do IPqM para a acústica submarina no Brasil
O IPqM é uma organização militar que tem como missão realizar atividades de pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, a fim de contribuir para a independência tecnológica do Brasil, o crescimento da Base Industrial de Defesa e o fortalecimento do Poder Naval. É o órgão responsável pelo desenvolvimento da Acústica Submarina.
Segundo o Doutor e Engenheiro Mecânico, do Grupo de Sistemas Acústicos Submarinos do IPqM, Fernando Luiz de Magalhães, o instituto se destaca, na América Latina, em diversas áreas de pesquisa, além de investir na tecnologia de sistemas sonar, já tendo, até mesmo, realizado serviços de consultoria técnica para marinhas estrangeiras.
Dentre os trabalhos realizados pelo IPqM, Fernando de Magalhães cita o desenvolvimento de transdutores e equipamentos hidroacústicos, o que engloba as etapas de concepção, projeto, fabricação e testes de unidades nacionais, além de estudos de propagação de ondas acústicas no mar, o que resulta em modelos matemáticos e algoritmos de simulação numérica. Também são desenvolvidos pelo instituto sistemas de aquisição, gravação, processamento e análise de sinais. Há ainda projetos que têm como objetivo idealizar e produzir sonares ativos e passivos brasileiros.
O Instituto também é o responsável pelo desenvolvimento do “Alvo Sonar Multifrequência”, que constitui-se em um transponder acústico. “O aparelho atua respondendo a pulsos recebidos, simulando o eco de um alvo submarino. É normalmente utilizado para estabelecer a precisão de marcação e de distância do sistema sonar do navio”, explica Fernando.
Em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos, o IPqM também realizou, no período entre 2007 e 2009, um projeto que visou à concepção de um perfilador hidroacústico de correntes que possa ser empregado no levantamento da vazão volumétrica dos rios da Bacia Amazônica, incorporando modificações estruturais que tornem o equipamento mais resistente mecanicamente do que os até então empregados.
FONTE: MB