O que é Consciência Situacional Marítima – CSM? Quais são os conceitos de segurança marítima? Como a tecnologia de vigilância pode auxiliar estrategicamente na defesa de um país? Esses temas foram abordados em duas dissertações de mestrado de dois alunos do Programa de Pós-Graduação em Estudos Marítimos da Escola de Guerra Naval (EGN), e tiveram o apoio de bolsas da Fundação Ezute.
Vinicius Janick, um dos bolsistas, desenvolveu a dissertação: “Poder marítimo, funções das Marinhas e Consciência Situacional Marítima“. O objetivo do estudo foi mostrar como as Funções das Marinhas (diplomáticas, militares e constabulares) se modificam de acordo com as mudanças na interpretação do conceito de segurança ao longo do tempo. “A análise permitiu identificar que a hipótese de que as funções constabulares cresceriam em importância é factível. A interdependência entre os Estados encoraja a relação diplomática. Sendo assim, as ameaças que afligem os Estados são em grande parte não-estatais e de caráter difuso, como terrorismo, tráfico de pessoas e narcóticos ou migração ilegal, melhor combatidas com atividades de cunho constabular, de inteligência e fiscalização. Isso não exclui, contudo, comportamento de cunho militar em situações específicas”, explica o especialista.Janick também abordou em seu estudo o conceito de Consciência Situacional Marítima, um tema relativamente novo e com pouca literatura no Brasil, mas que vem crescendo em importância. “Trata-se de um conceito que diz respeito à aquisição e domínio de informação. É intuitivamente associado às funções constabulares. Contudo, a análise que fiz de documentos demonstrou de maneira clara que a CSM pode ser um instrumento para todas as Funções da Marinha”, complementa ele.
Rita Feodrippe é a outra bolsista, que produziu a dissertação: “A importância da tecnologia de vigilância para a estratégia marítima chinesa no mar do Sul da China“. “A conclusão da minha pesquisa é a de que a China utiliza uma combinação de tecnologias de vigilância, como satélites, radares em terra e patrulha aeronaval/marítima, e isso beneficia sua estratégia marítima para a região Sul, uma vez que lhe dá ampla gama de atuações, além de alterar a percepção por parte de seus países vizinhos. Assim, dependendo da tecnologia utilizada, a assertividade chinesa cresce ou diminui. A vigilância conduzida por um navio-patrulha da Marinha chinesa, por exemplo, é vista com desconfiança pelos outros países, pois sua materialidade é muito óbvia e, a ameaça, mais direta. Já a geração de imagens por satélites permite uma flexibilização do diálogo de política externa, uma vez que a vigilância é feita à distância e quase em um contexto de ‘invisibilidade’ da parte vigilante – ainda que os países no entorno saibam que a China está permanentemente de olho”, conta a estudiosa.
Para os dois alunos, as bolsas da Fundação Ezute foram fundamentais para o sucesso de seus estudos. “Durante os dois anos em que recebi a bolsa, pude vivenciar diversas situações que podem surgir em um processo de pesquisa científica, desde as boas até as mais complexas. Percebi que não basta apenas aprimorar o conhecimento, mas também a capacidade de utilizar o modelo científico de pesquisa e produção de conhecimento”, diz Janick. Feodrippe também valoriza a experiência como bolsista da organização. “Aprendi bastante durante os ciclos de pesquisa realizados entre a EGN e a Fundação Ezute. Acho que ser bolsista da Fundação Ezute foi, e ainda é, também fundamental para minha vida acadêmica e profissional pós-mestrado, pois ajuda em minha apresentação junto a empresas e na submissão de projetos e bolsas, seja para apresentação de trabalhos, seja para ingresso no doutorado”, relata ela.“Além da produção de suas dissertações, esses bolsistas participaram ativamente na elaboração de artigos e dos relatórios atinentes aos ciclos de pesquisa previstos nos Planos de Trabalho sobre os temas ‘Modelos de Gerenciamento de Ciclo de Vida aplicados à Defesa’(2017) e ‘Gestão do Ciclo de vida de Tecnologias Produzidas pelo Governo’ (2018)”, explica Cleber Oliveira, especialista em Engenharia de Sistemas, e coordenador do ciclo de pesquisa pela Ezute.
Com base no Termo de Cooperação entre a EGN e a Fundação Ezute assinado em outubro de 2015, os temas dos ciclos de pesquisa são definidos nos Planos de Trabalho acordados anualmente e visam a fomentar estudos e pesquisas, com a participação dos bolsistas da Ezute, nas áreas de segurança, defesa e estratégia marítima.
Desde o início do Programa de Pós-Graduação em Estudos Marítimos (PPGEM) da EGN, a Ezute vem fomentando e contribuindo com a formação de recursos humanos de alto nível, por meio da concessão de bolsas de estudos integrais de mestrado e de iniciação científica no PPGEM. “Com a Rita e o Vinicius, concluímos até agora 9 bolsas de mestrado e 4 bolsas de iniciação científica. Atualmente temos três bolsas de mestrado vigentes“, diz Cleber Oliveira.